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maio 30, 2003


A indústria do cinema em Portugal II


Quando, em 1999 (espero estar correcto quanto ao ano), a SIC apresentou o projecto de produção de 30 telefilmes, co-financiados pelo ICAM, pensei que este seria o esperado percurssor do desenvolvimento da indústria de cinema português.

As minhas razões prendiam-se, primeiro, com o facto de, por parte do ICAM, não haver interferência no processo de selecção dos filmes a produzir – a SIC poderia, assim, avaliar argumentos segundo as probabilidades de sucesso comercial do filme.
Em segundo, o número de obras projectadas (30) contribuiria para a maior estabilidade das carreiras dos profissionais deste sector.
Por último porque a televisão generalista, como meio de entreternimento de massas, permite maior exposição mediática dos protagonistas – assim, mais tarde, filmes portugueses em exibição nas salas de cinema, com actores “conhecidos”, poderiam captar mais público.

A SIC Filmes teve um começo auspicioso: o primeiro filme, “Amo-te Teresa”, bateu o recorde de audiências na categoria de filmes (nacionais ou estrangeiros). Contudo, estas logo começaram a baixar de tal forma que o projecto foi, após cerca 12 filmes, colocado na prateleira (não sei se temporariamente).

O que correu mal?
A natural curiosidade humana, exponenciada pela forte campanha de marketing da SIC, justifica os números das audiências para o primeiro filme. Mas, infelizmente, o argumento de “Amo-te Teresa” – e de outros a seguir – não se adaptava aos gostos do público em geral. E, ainda, o factor novidade rapidamente desapareceu.
Não sei que profissionais de marketing trabalharam neste projecto - provavelmente nenhum - mas uma história sobre pedofilia (uma médica que se apaixona por um aluno de liceu) não tem grandes probabilidades de sucesso comercial.

Existem 3 géneros de filme que têm maiores probabilidades de sucesso: acção, comédia e romance - misturas entre os três também resultam.
O que a SIC decidiu produzir foram filmes dramáticos – ou filmes românticos com elevada carga dramática – e comédias burlescas (por outras palavras, estúpidas).
Usar fórmulas já testadas - e validadas por receitas de bilheteira - seria a melhor estratégia a seguir por uma televisão que se posiciona como fornecedora de entreternimento ao grande público. Originalidade é um risco que, em Portugal, face à inexistência de capacidade de investimento, não se deve tomar nos tempos mais próximos.

Vejo, agora, que este projecto, para desenvolver a indústria do cinema em Portugal, não deveria ter sido o primeiro a implementar. Essa estratégia será tema do próximo post.

PS: este blog não trata apenas de questões de cinema mas, penso eu, é um bom começo. Continuem ligados para a exploração de outros temas.