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junho 17, 2003


Capital do Móvel I


A grande maioria dos portugueses facilmente associa o termo “capital do móvel” ao concelho de Paços de Ferreira. Citando Arménio da Assunção Pereira, presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira:

O cartão de visita de Paços de Ferreira é a "Capital do Móvel", uma marca que particulariza o Concelho e encima o progresso local que, mais de que um epíteto, é uma declaração de cidadania económica com impacto e repercussões em todos os domínios de actividade.

A notoriedade da “marca” a nível nacional deve-se, principalmente, ao patrocínio do clube de futebol do concelho. Contudo, as empresas da região não seguiram a iniciativa estratégica da câmara municipal: não existem, em Paços de Ferreira, marcas de mobiliário conhecidas.
A incapacidade dos gestores em criarem marcas fortes (insuficiente formação na área de marketing?) poderá levar a que o esforço financeiro da câmara não consiga evitar, mais cedo ou mais tarde, a falência destas.
Existem regiões que, outrora, pelo número de empresas do mesmo sector de actividade aí instaladas, poderiam ter sido consideradas “capitais” – um exemplo é o Vale do Ave que algumas décadas atrás ter-se-ia designado por “Capital do Têxtil”.

As empresas do sector vidreiro, instaladas na região da Marinha Grande (“Capital do Vidro”?), já sentiram na pele as dificuldades de se centrarem em uma estratégia de produção – há sempre outra empresa, nacional ou estrangeira, que consegue fazer o mesmo por um preço mais baixo.
Para conseguirem aumentar a rentabilidade dos seus produtos, 19 empresas associaram-se para criar a marca MGlass – os recursos necessários ao desenvolvimento de uma marca forte eram demasiado onerosos para uma só empresa financiar. A aposta em designers conceituados potencia a notoriedade da marca diferenciando, junto dos consumidores, os produtos MGlass em relação aos da concorrência.

Em Paços de Ferreira a câmara municipal e a Associação Empresarial desenvolveram algumas iniciativas destinadas à promoção das empresas da região: a Mobilis (Bienal Internacional de Design) e a Feira do Móvel (esta última tem quase duas décadas de história – desde 1984).
Infelizmente, as empresas mobiliárias ainda continuam a apostar no processo produtivo, deixando a promoção dos seus produtos para eventos anuais com a duração de uma quinzena.

Lê-se na mensagem do presidente da câmara:

Ser o mais importante centro produção e comércio de móveis de Portugal, faz com que olhemos para a região com a responsabilidade de quem sabe que outros dependem da nossa capacidade, hoje, como no passado, quando as grandes industrias do concelho funcionavam como verdadeiras escolas de formação profissional, preparando os mestres que suportaram o desenvolvimento sustentado das industrias do concelho e das freguesias dos concelhos vizinhos.

Mas, sem o compromisso das empresas em desenvolverem estratégias de marketing destinadas à criação de marcas fortes, pouco mais poderá a Câmara fazer. Contudo, esta tem de, agora que o termo “capital do móvel” apresenta elevados níveis de reconhecimento, equacionar a validade estratégica de continuar a patrocinar o clube de futebol de Paços de Ferreira – por mais impopular que seja a medida. Talvez os milhares de euros do patrocínio possam ser mais eficazes se investidos na formação dos gestores da região...