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junho 09, 2003


Pastéis de Nata, SA


No passado fim-de-semana, na revista Única, suplemento do semanário Expresso, li um artigo sobre o sucesso, em Londres, da pastelaria “Lisboa Patisserie”. Sedeada no bairro de Notting Hill, esta pastelaria tem, nos últimos anos, crescido em popularidade. Dos produtos mais vendidos encontra-se o nosso conhecido pastel de nata.

Aproveitando o crescente interesse dos ingleses, o proprietário expandiu o negócio para outros bairros de Londres com a abertura de novas pastelarias e, através da sua fábrica de bolos, com o abastecimento a “várias pastelarias e casas de chá londrinas”.
Mas – alguns perguntam – fornecer à concorrência os bolos que dão notoriedade à pastelaria Lisboa é boa estratégia?
Segundo o artigo a capacidade da loja está esgotada (poucos lugares) mas não a capacidade de produção da sua fábrica. Deste modo, vender os bolos à concorrência evita a entrada no mercado de outro fornecedor, mantém os níveis de produção na capacidade máxima e financia a expansão da marca “Lisboa Patisserie”.

Tal como em Londres, na zona de Lisboa existem duas pastelarias cujos produtos são muito apreciados por portugueses e estrangeiros: a “Pastéis de Belém” (Belém) e a “Piriquita” (Sintra). A primeira é conhecida pelos seus pastéis de nata e a segunda pelos travesseiros.

Contudo, não obstante a notoriedade das marcas, as suas estratégias de expansão são algo questionáveis.
Na Pastéis de Belém, apesar de parecer que o negócio não tem mudado desde a sua inauguração no séc. XIX (1837?), nota-se, cada vez mais, a opção dos clientes pela compra ao balcão em detrimento do consumo à mesa – provavelmente devido à velha decoração e ao necessário restauro dos seus históricos azulejos.
Na Piriquita, a estratégia de expansão passou pela abertura de uma segunda pastelaria (a “Piriquida dois”, localizada a uns vinte metros de distância da original) e pela venda dos famosos travesseiros a estabelecimentos da zona de Lisboa.

A resistência à implementação de estratégias de crescimento deve-se, essencialmente, à tentativa de manter o segredo de preparação dos bolos que lhes deram fama. Para a Pastéis de Belém isso até parece um pouco contraditório uma vez que o pastel de nata é vendido em todas as pastelarias do país – e até em Londres...
Se os responsáveis pela Coca-Cola tivessem agido de forma semelhante, hoje em dia, a marca não seria a mais reconhecível em todo o mundo.

Penso que, salvarguardando o segredo da fórmula dos produtos, existem claras vantagens em assumir uma estratégia expansionista através de financiamento próprio ou em regime de franchising – começando por Lisboa. Por exemplo, a Piriquita, devido aos congestionados acessos à vila de Sintra, poderia ter um volume de vendas substancialmente maior se tivesse uma loja no centro de Lisboa.