<$BlogRSDUrl$>

dezembro 22, 2003


Expresso do meio-dia V


Editorial de Nicolau Santos, subdirector do semanário Expresso, edição de 13 de Dezembro (meus bolds):
"A segunda maior construtora portuguesa passou para mãos espanholas e não se ouviu uma palavra sobre o assunto."

"Sendo a génese dos processos completamente diferentes, o que Diogo Vaz Guedes fez foi o mesmo que António Champalimaud: vender os seus bens a interesses espanhóis."

"Champalimaud foi amoral. Vaz Guedes tornou-se altamente criticável."

"Sabe-se também que há concursos públicos em Espanha que abrem e fecham em 15 dias - e são sempre ganhos por empresas espanholas, que misteriosamente estavam preparadas para apresentar os seus dossiês de candidatura naquele espaço de tempo tão curto. Ora, em Portugal, nunca se fez esta concertação de posições."

"(...) a falta de uma definição estratégica do que queremos para Portugal e de um acordo de cavalheiros entre governantes e empresários para que estes, sem ferir as regras, ganhem a maior parte dos concursos públicos;"

Editorial de José António Saraiva, director do semanário Expresso, edição de 20 de Dezembro (meus bolds):
"(...) enquanto certas regiões como a Catalunha e o País Basco conquistam cada vez mais autonomia e até reividicam independência, Portugal perde todos os dias uma parcela de poder a favor de Espanha."

"Na semana passada foi a vez da família Vaz Guedes ceder a um grupo espanhol o controlo das empresas que detinha há três gerações. Antes tinha sido a família Champalimaud."

"Portugal (...) não dá um passo para travar a transferência do controlo da sua economia para o lado de lá da fronteira."

"O que se estranha, em todo o caso, é que o Presidente da República e o Governo não façam nada para contrariar este fenómeno."

"Enquanto Aznar reúne regularmente com empresários e banqueiros para a definição conjunta de linhas estratégicas, Jorge Sampaio e Durão Barroso submetem-se às 'leis de mercado' sem um gesto de revolta."

"Claro que os liberais puros não vêem nisto qualquer problema. O importante, para eles, é que o mercado funcione."

A hipocrisia destes senhores não tem limites.

Por exemplo, sobre a maior empresa de comunicações móveis do Brasil (e América do Sul) - controlada, equitativamente, por uma empresa portuguesa e outra espanhola - só li elogios à gestão dos responsáveis da Portugal Telecom. E, ainda recentemente, aplaudiam os investimentos de empresas portuguesas do sector do Turismo na região Nordeste do Brasil.
Mas, nunca passou pelos meus olhos qualquer artigo de opinião condenando a perda dos "centros de decisão" na economia brasileira. Por outras palavras, Nicolau Santos e José António Saraiva nada têm a dizer se os "invasores" forem portugueses! Como disse, são uns hipócritas...

Ambos apelam à corrupção do Governo português para garantir a atribuição de concursos públicos a empresas portuguesas. Sem mostrarem qualquer preocupação pelos evidentes custos de tais políticas - a eficiência fiscal não parece ser uma preocupação destes "jornalistas".

José António Saraiva chega a, dissimuladamente, pôr as culpas nos "liberais puros" que só acreditam nas leis de mercado ("o importante, para eles, é que o mercado funcione"). Esquece-se o dignissímo director do Expresso que o problema - segundo o que ele e Nicolau Santos afirmam - não está em Portugal mas sim em Espanha. Parece ser aí que as leis de mercado não funcionam eficientemente. Não seria melhor opção condenar tais práticas?

Infelizmente noto, nas palavras dos gestores do Expresso, uma pitada de salazarismo - e eu a pensar que o "orgulhosamente sós" já tinha passado à história.

PS: recomendo a leitura dos posts do De Direita e Liberdade de Expressão sobre o assunto. Ainda, aos interessados, o Portugal e Espanha postou os editoriais de Nicolau Santos e José António Saraiva.