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fevereiro 05, 2004


Deslocalização


Em Portugal, o número de falências no sector têxtil tem aumentado. Atribui-se ao fenómeno da deslocalização as causas da perda dos postos de trabalho neste sector. A Brax é o exemplo mediático mais recente (meus destaques):
"O governante [Luís Pais Antunes, secretário de Estado do Trabalho] não conhecia o montante total de apoios que a Brax portuguesa recebeu, mas contabilizou, só pela via do Fundo Social Europeu, a atribuição de cerca de 120 mil euros, divididos pelos últimos 20 anos.

(...) a eurodeputada do PCP, Ilda Figueiredo vai solicitar à Comissão Europeia (CE) que vede à Brax a possibilidade de instalar uma nova fábrica no espaço europeu, utilizando recursos financeiros da União. E, por outro lado, vai sugerir que a «obrigue a Brax a devolver todos os financiamentos de que usufruiu para se instalar em Portugal».

A euro-deputada está convencida de que a empresa decidiu «deslocalizar» a sua unidade produtiva para um dos países que está à beira de entrar na União Europeia, para poder alcançar os benefícios financeiros que essas nações estão a oferecer, valendo-se das ajudas que já estão a receber dos cofres comunitários."

Décadas atrás, a empresa alemã "decidiu deslocalizar a sua unidade produtiva" para Portugal. Deveria esta empresa ter recebido apoios comunitários? Segundo as citadas declarações da eurodeputada comunista, NãO! Alguém ouviu, então, o Partido Comunista Português (PCP) condenar os apoios dos "últimos 20 anos" à empresa?

Mas, esperem, os comunistas querem acabar com os apoios comunitários???
Talvez não!!! A declaração de voto no Parlamento Europeu da referida eurodeputada - referente, precisamente, ao sector dos têxteis (meus destaques):
"Congratulo-me com a inclusão na presente resolução do PE de duas das minhas propostas que penso serem importantes para apoiar o sector têxtil e do vestuário na UE e em Portugal, nomeadamente a criação de um programa comunitário específico para o sector - com adequados meios de apoio –, particularmente para as regiões mais desfavorecidas dependentes do sector, de apoio à investigação, à inovação, à formação profissional e às PMEs; assim como, a criação de um programa comunitário que incentive a criação de marcas e a promoção externa dos produtos do sector, nomeadamente nas feiras internacionais."

Se, amanhã, uma empresa francesa, alemã ou italiana, quiser investir em Portugal, haverá protestos do PCP? Claro que não! Mas, trata-se de "deslocalização"...

E, se os países "à beira de entrar na União Europeia" - regiões europeias claramente desfavorecidas - têm vantagem competitiva no sector dos têxteis, não estarão eles dependentes do mesmo?

Apesar de, no passado, o PCP ter apoiado a deslocalização de empresas estrangeiras para Portugal, este quer, agora, uma proibição parcial de semelhante fenómeno - apenas o sentido Portugal=>Estrangeiro.

Ilda Figueiredo condena o uso de apoios comunitários às empresas que se deslocalizam para os novos estados-membros da União Europeia (UE). Exige, ainda, apoios da UE às empresas situadas nas regiões desfavorecidas de Portugal. No entanto, porque deverão os contribuintes alemães pagar impostos para financiar uma empresa que se deslocalizou da Alemanha para Portugal?

Nota Final: este post não é uma crítica apenas dirigida às "políticas" do PCP; a condenação do fenómeno da deslocalização é lugar-comum na sociedade portuguesa.