outubro 13, 2004
Gestão de Crises
Ontem, durante a hora de almoço, tive a oportunidade de ver, no Canal Parlamento, parte do inquérito parlamentar à Compta sobre os problemas na publicação das listas de colocação de professores.
Desde logo saltou à vista a má organização dos inquéritos parlamentares. Exemplo: cheguei a ouvir um deputado perguntar quais as cláusulas no caderno de encargos do concurso de colocação de docentes, visto este não ter em sua posse o referido documento! A evidente incompetência dos deputados não foi, contudo, uma surpresa. Mas, dos gestores da Compta, esperava maior profissionalismo.
A imagem de uma empresa - criada ao longo de vários anos - pode ser destruída numa questão de semanas, dias ou... até minutos. A rapidez com que os orgãos de comunicação social conseguem difundir informação exige às empresas (e seus responsáveis) capacidades de gestão de crises.
Em relação aos deputados da comissão de inquérito parlamentar (e público em geral), a Compta partiu com uma vantagem: conhecia, de antemão e em pormenor, o desenvolvimento dos acontecimentos. Logo, independentemente das suas responsabilidades no caso, poderia ter gerido melhor a forma como a informação foi divulgada.
Durante o Verão muito se especulou sobre as responsabilidades técnicas da Compta. O silêncio desta não foi, infelizmente, boa estratégia. Era possível - e desejável - fornecer alguns dados aos jornalistas sem, contudo, entrar em pormenores que dificultassem a já deteriorada colaboração com o Ministério da Educação.
Penso que a estratégia de comunicação deveria começar por explicar a complexidade de implementação dos critérios estipulados no decreto-lei 35/2003 (ficheiro PDF - 208KB) e, também, as alterações a este, efectuadas a 17 de Janeiro do corrente ano (decreto-lei 18/2004) - este último provavelmente influenciou, de forma significativa, os prazos planeados para o desenvolvimento da aplicação. Acresceu ainda a dificuldade de ter de haver, segundo testemunhos na comissão de inquérito parlamentar, "interpretação jurídica" (pelo Ministério de Educação e... sindicatos?) dos referidos decretos-lei.
E, quando a 28 de Setembro foi finalizado o processo de colocação de professores (agora sob a liderança dos consultores informáticos da ATX Software), a Compta - que também tinha, nesse dia, as listas disponíveis - deveria enviar à imprensa no próprio dia (ou no dia seguinte, 29), o press release que só disponibilizou no dia 5 de Outubro (meus destaques):
Com estas palavras ter-se-ia atenuado a glorificação da ATX, nomeadamente o artigo intitulado "Milagroso Algoritmo" (conteúdo pago), na edição de 2 de Outubro do semanário Expresso.
Ainda, porque a opinião pública é facilmente influenciada pela classe política, a presença da Compta na comissão de inquérito parlamentar teria sido uma boa oportunidade para "limpar" a sua imagem. Para o efeito, era necessário que toda a documentação relevante fosse, desde logo, disponibilizada aos deputados (ex: fornecer dossiê a cada um), sendo assim possível fundamentar rapidamente as respostas dadas a estes - e, uma vez que tinham um conhecimento prévio da informação, teria sido fácil antecipar o teor das perguntas.
Esta é a era da informação. Ela circula à velocidade da luz! Hoje, um bom gestor necessita de possuir, além das suas qualificações "técnicas", capacidade de comunicação. A Compta não fez tal investimento e, agora, está a "pagar" por isso...
Desde logo saltou à vista a má organização dos inquéritos parlamentares. Exemplo: cheguei a ouvir um deputado perguntar quais as cláusulas no caderno de encargos do concurso de colocação de docentes, visto este não ter em sua posse o referido documento! A evidente incompetência dos deputados não foi, contudo, uma surpresa. Mas, dos gestores da Compta, esperava maior profissionalismo.
A imagem de uma empresa - criada ao longo de vários anos - pode ser destruída numa questão de semanas, dias ou... até minutos. A rapidez com que os orgãos de comunicação social conseguem difundir informação exige às empresas (e seus responsáveis) capacidades de gestão de crises.
Em relação aos deputados da comissão de inquérito parlamentar (e público em geral), a Compta partiu com uma vantagem: conhecia, de antemão e em pormenor, o desenvolvimento dos acontecimentos. Logo, independentemente das suas responsabilidades no caso, poderia ter gerido melhor a forma como a informação foi divulgada.
Durante o Verão muito se especulou sobre as responsabilidades técnicas da Compta. O silêncio desta não foi, infelizmente, boa estratégia. Era possível - e desejável - fornecer alguns dados aos jornalistas sem, contudo, entrar em pormenores que dificultassem a já deteriorada colaboração com o Ministério da Educação.
Penso que a estratégia de comunicação deveria começar por explicar a complexidade de implementação dos critérios estipulados no decreto-lei 35/2003 (ficheiro PDF - 208KB) e, também, as alterações a este, efectuadas a 17 de Janeiro do corrente ano (decreto-lei 18/2004) - este último provavelmente influenciou, de forma significativa, os prazos planeados para o desenvolvimento da aplicação. Acresceu ainda a dificuldade de ter de haver, segundo testemunhos na comissão de inquérito parlamentar, "interpretação jurídica" (pelo Ministério de Educação e... sindicatos?) dos referidos decretos-lei.
E, quando a 28 de Setembro foi finalizado o processo de colocação de professores (agora sob a liderança dos consultores informáticos da ATX Software), a Compta - que também tinha, nesse dia, as listas disponíveis - deveria enviar à imprensa no próprio dia (ou no dia seguinte, 29), o press release que só disponibilizou no dia 5 de Outubro (meus destaques):
"Nos meses que se seguiram e ao longo de todo o processo, foi confrontada múltiplas vezes com alterações das normas, da sua interpretação e critérios aplicáveis, por parte, nomeadamente, da Direcção Geral dos Recursos Humanos da Educação. Os prazos estabelecidos tornaram-se por isso impossíveis de cumprir. Ainda assim, a COMPTA, com boa fé e atento o interesse público envolvido, procurou corresponder aos pedidos e necessidades dos seus parceiros neste processo. A título de exemplo refira-se que a retirada das listas emitidas a 20 Setembro se deve ao facto de terem sido detectadas incorrecções cuja origem é exterior à COMPTA. Acresce que algumas das especificações transmitidas pelos serviços da DGRHE se revelaram não compatíveis com o Decreto-Lei 35/2003."
Com estas palavras ter-se-ia atenuado a glorificação da ATX, nomeadamente o artigo intitulado "Milagroso Algoritmo" (conteúdo pago), na edição de 2 de Outubro do semanário Expresso.
Ainda, porque a opinião pública é facilmente influenciada pela classe política, a presença da Compta na comissão de inquérito parlamentar teria sido uma boa oportunidade para "limpar" a sua imagem. Para o efeito, era necessário que toda a documentação relevante fosse, desde logo, disponibilizada aos deputados (ex: fornecer dossiê a cada um), sendo assim possível fundamentar rapidamente as respostas dadas a estes - e, uma vez que tinham um conhecimento prévio da informação, teria sido fácil antecipar o teor das perguntas.
Esta é a era da informação. Ela circula à velocidade da luz! Hoje, um bom gestor necessita de possuir, além das suas qualificações "técnicas", capacidade de comunicação. A Compta não fez tal investimento e, agora, está a "pagar" por isso...