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outubro 07, 2003


Capital do Móvel II


Quem regularmente visita este blog lembrar-se-á de um post sobre Paços de Ferreira, a "Capital do Móvel" (link no fim do post). Volto a este tema depois de ler, hoje, um artigo do Público (meus bolds):
"O PÚBLICO foi conhecer as dificuldades do gerente de uma pequena fábrica da capital do móvel.(...)José Silva, de 34 anos"

"(...) não uma fábrica grande, mas um conjunto de barracões amparando-se uns aos outros."

No início do artigo o "gerente", sem saber, dá uma pista sobre a causa dos problemas nas empresas da região:
" 'A sorte é que, aqui, os patrões ainda continuam a ser patrões e não empresários; caso contrário, isto já tinha fechado', comenta José Silva,"

Se fossem empresários teriam antecipado as novas exigências do mercado:
"(...) a crise (que afectou sobretudo o sub-sector as encomendas 'por medida'), o mobiliário espanhol e italiano, feito em cartão prensado, 'mas com excelentes acabamentos', e os outros empresários da região que, perante as dificuldades, 'vendem os móveis abaixo do seu custo de produção, apenas para assegurar o cumprimento das obrigações imediatas' "

Além da falta de qualificação dos gestores, o problema é de dimensão:
"(...) uma indústria com potencialidades, mas afectada, conforme aponta o estudo realizado por Daniel Bessa, pela extrema fragmentação e assente em pequenas empresas quase familiares"

Crescimento interno não é possível:
" 'Queria melhorar as instalações, mas, para termos direito a apoios, seria necessário ter capital para investir. E não temos. Sempre vivemos dos capitais próprios', explica José Silva."

Uma das alternativas seria a concentração de empresas, estratégia que, apesar de equacionada, o "não-empresário" recusa por motivos não-estratégicos:
" 'Já fui abordado nesse sentido, mas tenho um bocado de receio. Era o mais viável, a tendência é essa, mas quebrava o espírito artesanal e quase familiar. Não sei se aderia a uma coisa dessas...', hesita José Silva."

Mas "o industrial vê, todavia, outras saídas para a depressão":
"(...) construção do há muito prometido IC25"

"(...) a criação de zonas industriais com terrenos a baixo custo nas freguesias do concelho"

"a aposta na internacionalização (...) apoiada por uma estratégia estatal assente na promoção do fabrico artesanal e a obrigatoriedade da identificação do móvel"

"(...) a criação de reais incentivos, com uma fiscalização apertada"

O Sr. Silva:
- Não tem as necessárias qualificações para gerir!
- Não tem dimensão para competir!
- Não tem dinheiro para investir!
- Não quer juntar esforços a outras empresas!

Mas quer o dinheiro dos nossos impostos para:
- melhores acessos para escoar o produto que não conseguirá vender (?)
- comprar terrenos em zonas industriais de "baixo custo" para construir fábrica com dinheiro que não tem (?)
- promover o fabrico artesanal e identificação do móvel sem conhecer as motivações de compra do consumidor (?)
- atribuir benefícios fiscais a empresas sem vantagens competitivas (?)

Provavelmente existem políticos que - no mercado de troca: fundos públicos/votos - tenham prometido investimentos em semelhantes "estratégias" de eficácia, em minha opinião, extremamente duvidosa.

Sr. Silva e colegas, adiar a necessária restruturação das empresas do sector é, usando o termo da actual época de caça, um tiro no próprio pé.
Sem pretensões de possuir a verdade absoluta, já neste blog escrevi um post sobre uma possível estratégia para as empresas da região: Marketing (financiada por processos de concentração e/ou acordos de cooperação).