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maio 31, 2003


Ota: estratégia de baixo custo


Ao ler, na edição de hoje do semanário Expresso, a entrevista de Carmona Rodrigues, Ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação quanto à possível opção estratégica a tomar em relação aos aeroportos da Portela e da Ota, alguns dos meus neurónios dispararam (Tempestade Cerebral?)...

Excertos da entrevista:
- “qualquer novo aeroporto de Lisboa, seja onde for, deve ser um complemento”
- “Por exemplo, a Ota até pode ser um aeroporto com apenas uma pista para voos charter. Mas a Portela será sempre o principal aeroporto de Lisboa”

Existe um caso semelhante do qual podemos retirar algumas lições. Na cidade italiana de Milão, construiu-se um novo aeroporto (Malpensa), a cerca de 50 km do centro, para substituir o aeroporto de Linate que, à semelhança do da Portela, se encontra “dentro da cidade”, mas que já estava a atingir os limites da sua capacidade.
O que não se antecipou foi a relutância das companhias aéreas abandonarem os voos para Linate. A proximidade com o centro da cidade é, para os passageiros de negócios, um bem demasiado valioso - que as transportadoras querem continuar a cobrar. Deste exemplo, a afirmação do ministro de que qualquer novo aeroporto será “um complemento” – continuando o da Portela a ser o principal aeroporto de Lisboa – parece ser a melhor estratégia.

Mas afirmar que a Ota pode ser um aeroporto para voos charter é pensar demasiado pequeno.
O aeroporto da Ota, ou qualquer outro nos arredores de Lisboa, deverá ter três vertentes:
1. hub para destinos do Hemisfério Sul
2. destino de baixo preço (companhias aéreas charter e no-frills)
3. entreposto de tranporte de cargas por via aérea

Deverá caminhar-se para uma estratégia em que a Portela seja o aeroporto premium de Lisboa (maiores taxas de aeroporto) dirigido aos passageiros dispostos a pagar pelo rápido acesso ao centro – passageiros de negócios ou turistas com poder de compra – e a Ota o aeroporto para passageiros e companhias aéreas cujo preço seja um factor decisivo. A manter-se a Portela, comparativamente com a opção inicial, baixam os custos de construção da Ota.

Um aeroporto, próximo de Lisboa, com baixas taxas, pode ser um ponto de paragem (hub) de voos internacionais - entre os países da Europa e a América Latina/África e até mesmo entre a América do Norte e a Ásia – e um destino para as companhias aéreas que concorrem em preço (as designadas no-frills: o passageiro só recebe uma viagem; se quer extras paga-os à parte).

As perspectivas, para as próximas décadas, das taxas de crescimento da América Latina, a nossa relação socio-económica com o Brasil e a nossa posição geográfica permite-nos explorar uma estragégia atlântica como elo de ligação entre este sub-continente e o resto da Europa. O porto de Sines e um novo aeroporto de Lisboa seriam os entrepostos (hubs) de importância vital para, respectivamente, os transportes marítimos e aéreos entre estas duas regiões. E, apesar do relativo atraso económico, o mesmo se aplica, num futuro um pouco mais distante, para as relações comerciais com África.

As companhias aéreas no-frills têm obtido bons resultados através de voos entre aeroportos secundários - mais baratos e menos congestionados. Infelizmente estas não voam para a capital portuguesa (fazem-no para Faro) porque as taxas para aterrar na Portela impossibilitam a prática de baixos preços. A existência de um aeroporto como o da Ota seria ideal para atrair turistas com orçamentos mais reduzidos.

Quanto à carga, os transportadores não diferenciam se esta é entregue num aeroporto no centro da cidade ou noutro a uns 50 km. E se diferenciam então pagariam por esse privilégio...

Nota: Referi no post anterior que iria sugerir uma possível estratégia para o desenvolvimento sustentado do cinema português. Apesar de ter escrito que é necessário popularizar os filmes portugueses não gostaria, contudo, que essa afirmação seja interpretada como estando a sugerir a “americanização” da indústria cinematográfica portuguesa. Mas, pode parecer um paradoxo, penso que é importante aprender com os sucessos e, principalmente, com os erros de Hollywood. Ainda estou a consultar alguma documentação pelo que a terceira parte do tema “A indústria do cinema em Portugal” fica adiada.



maio 30, 2003


A indústria do cinema em Portugal II


Quando, em 1999 (espero estar correcto quanto ao ano), a SIC apresentou o projecto de produção de 30 telefilmes, co-financiados pelo ICAM, pensei que este seria o esperado percurssor do desenvolvimento da indústria de cinema português.

As minhas razões prendiam-se, primeiro, com o facto de, por parte do ICAM, não haver interferência no processo de selecção dos filmes a produzir – a SIC poderia, assim, avaliar argumentos segundo as probabilidades de sucesso comercial do filme.
Em segundo, o número de obras projectadas (30) contribuiria para a maior estabilidade das carreiras dos profissionais deste sector.
Por último porque a televisão generalista, como meio de entreternimento de massas, permite maior exposição mediática dos protagonistas – assim, mais tarde, filmes portugueses em exibição nas salas de cinema, com actores “conhecidos”, poderiam captar mais público.

A SIC Filmes teve um começo auspicioso: o primeiro filme, “Amo-te Teresa”, bateu o recorde de audiências na categoria de filmes (nacionais ou estrangeiros). Contudo, estas logo começaram a baixar de tal forma que o projecto foi, após cerca 12 filmes, colocado na prateleira (não sei se temporariamente).

O que correu mal?
A natural curiosidade humana, exponenciada pela forte campanha de marketing da SIC, justifica os números das audiências para o primeiro filme. Mas, infelizmente, o argumento de “Amo-te Teresa” – e de outros a seguir – não se adaptava aos gostos do público em geral. E, ainda, o factor novidade rapidamente desapareceu.
Não sei que profissionais de marketing trabalharam neste projecto - provavelmente nenhum - mas uma história sobre pedofilia (uma médica que se apaixona por um aluno de liceu) não tem grandes probabilidades de sucesso comercial.

Existem 3 géneros de filme que têm maiores probabilidades de sucesso: acção, comédia e romance - misturas entre os três também resultam.
O que a SIC decidiu produzir foram filmes dramáticos – ou filmes românticos com elevada carga dramática – e comédias burlescas (por outras palavras, estúpidas).
Usar fórmulas já testadas - e validadas por receitas de bilheteira - seria a melhor estratégia a seguir por uma televisão que se posiciona como fornecedora de entreternimento ao grande público. Originalidade é um risco que, em Portugal, face à inexistência de capacidade de investimento, não se deve tomar nos tempos mais próximos.

Vejo, agora, que este projecto, para desenvolver a indústria do cinema em Portugal, não deveria ter sido o primeiro a implementar. Essa estratégia será tema do próximo post.

PS: este blog não trata apenas de questões de cinema mas, penso eu, é um bom começo. Continuem ligados para a exploração de outros temas.



maio 29, 2003


A indústria de cinema em Portugal I


Vi, uns dias atrás, num dos canais de televisão portugueses, uma entrevista ao maior produtor de cinema português, Paulo Branco.
Nesta, ele referiu que muito se orgulhava de participar com 3 filmes portugueses no 56° Festival de Cinema de Cannes.

Fez a comparação com a Espanha e Itália que apenas apresentavam, no mesmo festival, 1 filme cada. Mais uma vez, segundo o mesmo, isso era um motivo de orgulho para Portugal porque estes são países com um número de filmes produzidos substancialmente superior ao nosso.

De seguida, lamentou que, apesar dessa notável distinção dos filmes nacionais, o público português continua a ignorar os mesmos nas salas de cinema.

Ora, sem clientes - neste caso público - não há indústria que seja, por si só, sustentável. As reduzidas receitas que se obtêm na distribuição comercial dos filmes limitam a capacidade dos produtores em remunerar justamente os profissionais desta actividade e em financiar novos projectos.

Então que fazer?
O Sr. Paulo Branco – e outros – advogam que a solução passa pelo Estado português atribuir mais e maiores subsídios a esta importante actividade que, segundo estes, tão bem representa o nosso país. Desta forma, conseguir-se-iam baixar os custos de produção o suficiente para as produtoras portuguesas sobreviverem.

Contudo, eu penso que, se clamam por mais público, então é necessário que produzam filmes para as massas e não para as elites organizadoras de festivais de cinema. É necessário focar a atenção no sucesso comercial do filme e deixar de “sonhar” com possíveis(?) estatuetas de um qualquer festival.

O que produtores como Paulo Branco têm de compreender é que o cinema, quando dirigido ao público em geral, deixa de ser arte e passa a ser entertenimento e, como tal, deve reger-se segundo as regras do mercado.