março 25, 2004
Financiamento da Cultura
Este é um comentário à resposta do Aviz a outro meu comentário a post do mesmo autor que comentava a minha opinião sobre a posição deste na questão do financiamento estatal do projecto de Belgais!
A "conversa" vai longa mas interessante! Podem usar os links - abrem em novas janelas - para seguirem o processo que nos levou aqui. Sugestão: comecem do fim para o princípio!
[NOTA: Dado o blog Aviz não permitir links directos aos posts em causa, sugiro que deixem o cursor alguns segundos sobre o meu link para perceberem qual o título do post linkado e a data da sua publicação. Aviz, trata-se de um "problema" no código HTML da Template. Se o quiser resolver, pode contactar-me para o efeito (email ao lado).]
Agora o comentário:
O Aviz diz que o National Endowment for the Arts (NEA) e o National Endowment for the Humanities (NEH) "não são senão uma parte do orçamento americano para as artes e as letras - muito reduzida e parcial" - apesar de a presidente da NEA escrever, no relatório anual (2,1 MB - PDF), que a referida instituição é "the largest funder of the arts in the United States"!!! De qualquer forma, quanto a financimentos "laterais", caro Aviz, permita-me dizer-lhe que o mesmo acontece em Portugal: por exemplo, no caso de Belgais, o financiamento estatal não é só proveniente do Ministério da Cultura mas, também, do Ministério da Educação, do Instituto das Artes, da Câmara Municipal de Castelo Branco e da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova.
No entanto, a questão fundamental vai além da comparação de orçamentos de entidades públicas americanas e portuguesas das quais, aliás, já declarei que não apoio a sua existência!
O que realmente importa está presente nas seguintes afirmações do Aviz (meu destaque):
De facto, essa é uma opinião que não acho absurda! Acho sim, absurdo.... ou melhor, contraditório, defender o financimento público da Cultura e depois "queixar-se" do desinteresse dos privados.
O que em posts anteriores procurei demonstrar foi a existência de uma relação causal entre o excessivo peso do Estado na economia e o nível de desinteresse da sociedade civil por projectos culturais. Quanto à elevada carga tributária sugiro-lhe o meu post "Robin dos Bosques III"!
A respeito do desinteresse dos privados, volto ao exemplo de Belgais:
Apesar da excelência do projecto, a sua criadora, a pianista Maria João Pires (MJP), decidiu captar o interesse dos governantes para obtenção de financiamento - particularmente a atenção do então ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho.
Porquê o Estado e não os privados? Porque não existia - e ainda não existe - interesse dos privados pela Cultura. Os privados pouco conhecem do projecto porque nunca houve a preocupação em envolve-los no processo!
Uma vez recebido o financiamento público, MJP não mais necessitou de preocupar-se com o nível de interesse pelo projecto. Até ao próximo financiamento.
Entretanto, houve novas eleições: mudou o Governo, mudaram as políticas. E, a recessão - iniciada pelo anterior governo e não resolvida pelo actual - também não ajudou...
Contudo, a principal solução de MJP foi queixar-se do Estado português à imprensa nacional e estrangeira. Outra solução seria tentar convencer a sociedade civil dos méritos culturais e educacionais do projecto de Belgais. Teria sucesso? Não sei, mas deixo-lhes algumas sugestões:
Provavelmente, à MJP, é mais fácil "bater o pé" nas redacções dos jornais e esperar que o Estado continue a "bombear", para Belgais, o dinheiro dos contribuintes. Mas, assim, o desinteresse do público português continuará a ser uma realidade.
PS: O interesse da sociedade civil por instituições sem fins lucrativos existe. Faltam, sim, iniciativas de auto-promoção. Veja-se o exemplo de sucesso do Banco Alimentar.
A "conversa" vai longa mas interessante! Podem usar os links - abrem em novas janelas - para seguirem o processo que nos levou aqui. Sugestão: comecem do fim para o princípio!
[NOTA: Dado o blog Aviz não permitir links directos aos posts em causa, sugiro que deixem o cursor alguns segundos sobre o meu link para perceberem qual o título do post linkado e a data da sua publicação. Aviz, trata-se de um "problema" no código HTML da Template. Se o quiser resolver, pode contactar-me para o efeito (email ao lado).]
Agora o comentário:
O Aviz diz que o National Endowment for the Arts (NEA) e o National Endowment for the Humanities (NEH) "não são senão uma parte do orçamento americano para as artes e as letras - muito reduzida e parcial" - apesar de a presidente da NEA escrever, no relatório anual (2,1 MB - PDF), que a referida instituição é "the largest funder of the arts in the United States"!!! De qualquer forma, quanto a financimentos "laterais", caro Aviz, permita-me dizer-lhe que o mesmo acontece em Portugal: por exemplo, no caso de Belgais, o financiamento estatal não é só proveniente do Ministério da Cultura mas, também, do Ministério da Educação, do Instituto das Artes, da Câmara Municipal de Castelo Branco e da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova.
No entanto, a questão fundamental vai além da comparação de orçamentos de entidades públicas americanas e portuguesas das quais, aliás, já declarei que não apoio a sua existência!
O que realmente importa está presente nas seguintes afirmações do Aviz (meu destaque):
"[H]á uma responsabilidade social da riqueza e uma ética do dinheiro que o mundo dos «ricos portugueses actuais» desconhece.
(...)
Do que eu me queixo bastante, meu caro, é do facto de a «sociedade civil», ou os «privados», ou seja lá o que for, não ter bastante gente educada, culta, interessada. E de se ter desinteressado de Belgais. Acha esta opinião absurda, naturalmente; mas a verdade é que o País definha também por causa disso."
De facto, essa é uma opinião que não acho absurda! Acho sim, absurdo.... ou melhor, contraditório, defender o financimento público da Cultura e depois "queixar-se" do desinteresse dos privados.
O que em posts anteriores procurei demonstrar foi a existência de uma relação causal entre o excessivo peso do Estado na economia e o nível de desinteresse da sociedade civil por projectos culturais. Quanto à elevada carga tributária sugiro-lhe o meu post "Robin dos Bosques III"!
A respeito do desinteresse dos privados, volto ao exemplo de Belgais:
Apesar da excelência do projecto, a sua criadora, a pianista Maria João Pires (MJP), decidiu captar o interesse dos governantes para obtenção de financiamento - particularmente a atenção do então ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho.
Porquê o Estado e não os privados? Porque não existia - e ainda não existe - interesse dos privados pela Cultura. Os privados pouco conhecem do projecto porque nunca houve a preocupação em envolve-los no processo!
Uma vez recebido o financiamento público, MJP não mais necessitou de preocupar-se com o nível de interesse pelo projecto. Até ao próximo financiamento.
Entretanto, houve novas eleições: mudou o Governo, mudaram as políticas. E, a recessão - iniciada pelo anterior governo e não resolvida pelo actual - também não ajudou...
Contudo, a principal solução de MJP foi queixar-se do Estado português à imprensa nacional e estrangeira. Outra solução seria tentar convencer a sociedade civil dos méritos culturais e educacionais do projecto de Belgais. Teria sucesso? Não sei, mas deixo-lhes algumas sugestões:
- concertos de angariação de fundos;
- pedidos de donativos, nos programas da manhã das televisões e rádios, para a conta bancária do Centro de Artes de Belgais;
- sessões de autógrafos das obras interpretadas por MJP;
- actualização regular do site do projecto de Belgais (através, talvez, de um blog?):
- disponibilização, no site, de samples da música gravada em Belgais;
- organização, em parceria com orquestras portuguesas, de concertos nas escolas e universidades de forma a promover autores como Bach, Bethoven, Chopin, Mozart, Schumann,Wagner, etc;
- organização de visitas guiadas ao Centro de Artes de Belgais (durante os períodos de férias dos alunos);
- contratos de patrocínio com empresas privadas (que, contudo, necessitariam de maior exposição mediática do projecto).
Provavelmente, à MJP, é mais fácil "bater o pé" nas redacções dos jornais e esperar que o Estado continue a "bombear", para Belgais, o dinheiro dos contribuintes. Mas, assim, o desinteresse do público português continuará a ser uma realidade.
PS: O interesse da sociedade civil por instituições sem fins lucrativos existe. Faltam, sim, iniciativas de auto-promoção. Veja-se o exemplo de sucesso do Banco Alimentar.