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outubro 21, 2003


A indústria de cinema em Portugal VI


"61 espectadores". Este foi o título do artigo que Jorge Leitão Ramos (JLR), crítico de cinema do semanário Expresso, usou para comentar o baixíssimo número de espectadores do filme Altar (61), em exibição nos cinemas Twin Towers (Lisboa) - isto, durante uma semana de exibição, com cinco sessões diárias.

JLR descarta duas possíveis interpretações para o "desastre" (meus bolds):
"A primeira e mais imediata é sustentar que os portugueses não querem ver cinema português (...) Não sei se os portugueses querem ou não ver os filmes que por cá se fazem (embora, nos últimos meses, tenham querido ver pouco, algo que começa a ser preocupante; precisa-se de um sucesso como de pão para a boca...)."

"A segunda interpretação que se pode tirar dos números é justificá-los com uma hipotética falha de promoção, apontando ao 'marketing' do distribuidor as baterias (...). Mas Altar foi lançado com inequívoca dignidade, sejamos justos. O problema é outro."

Finalmente, segundo JLR, a verdadeira causa (meus bold):
"O problema é que Altar não é um filme para estrear em salas de cinema. Nada, da sua concepção à concretização, lhe empresta alguma centelha de entretenimento, qualquer vontade de espectáculo." (in Expresso, 18/10/2003)

O problema dos filmes portugueses é, precisamente, a inaptidão dos cineastas em aplicar simples estratégias de Marketing (entre elas: conhecer o público-alvo).

JLR, ao lamentar a escassez de público nos filmes portugueses, ao clamar por um "sucesso" e ao revelar o mau posicionamento do referido filme (segundo este, Altar é um filme para públicos selectos), está - conscientemente, ou não - a desejar que os nossos cineastas produzam obras segundo os gostos do público português.

JLR não deveria desvalorizar o facto do público não querer ver filmes portugueses. Este é um importante sinal de como as produções nacionais necessitam de aproximar as visões dos seus autores às fórmulas de sucesso comercial (para muitos - incluindo JLR? - um assunto tabu).

Como afirmei no meu primeiro post ("A indústria de cinema em Portugal"):
"O que [os] produtores (...) têm de compreender é que o cinema, quando dirigido ao público em geral, deixa de ser arte e passa a ser entretenimento e, como tal, deve reger-se segundo as regras do mercado."

Nota: este já é o sexto capítulo da saga "A indústria de cinema em Portugal". Aos interessados, aqui disponibilizo os links a anteriores posts: Parte I, II, III, IV e V.