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novembro 29, 2003


Concorrência desleal II


Via Intermitente, li o artigo do Público sobre a abertura "não autorizada" de lojas do grupo Inditex. Alguns excertos (meus links & bolds):
"O grupo espanhol Inditex abriu seis lojas [Zara, Bershka, Pull Bear, Often, Stradivarius e Kiddy's Class] no centro comercial Parque Nascente, em Rio Tinto, Gondomar, para as quais não tinha a devida autorização."

"No âmbito da lei de licenciamento comercial (Decreto-Lei nº 218/97), que se encontra em fase de alteração, o grupo Inditex já tinha esgotado a sua quota a nível nacional."

"Confirmada a abertura de lojas sem a devida autorização, a Direcção-geral de Comércio e Concorrência pode determinar o encerramento das mesmas, o que tem efeitos imediatos (...)"

O grupo Inditex - e, principalmente, a sua marca Zara - tem crescido porque fornece a consumidores de 48 países produtos um cativante mix de design-qualidade-preço. É lamentável que esta empresa - ou qualquer outra - seja prejudicada por apresentar um modelo de negócio de sucesso.

Quem beneficia com este, ou qualquer outro, licenciamento comercial?
Apenas quem "vende" produtos excessivamente caros (diminuta concorrência) e/ou de reduzida "qualidade"...

Sem o condicionalismo estatal do licenciamento comercial, a concorrência de mercado "dá" o poder aos consumidores portugueses. Estes decidirão quais as empresas "sobreviventes"... não o Estado.

Porque noto, no Governo, falta de rigor, volto a citar a missão da Autoridade da Concorrência (meus bolds):
Assegurar a aplicação das regras de concorrência em Portugal, no respeito pelo princípio da economia de mercado e da livre concorrência, tendo em vista:
- O funcionamento eficiente dos mercados,
- Um elevado nível de progresso técnico,
- E, sobretudo, o prosseguimento do maior benefício para os consumidores

Haverá alguma associação de consumidores que apresente à Autoridade da Concorrência queixa contra o Ministério da Economia e o seu licenciamento comercial?


novembro 13, 2003


Fuga das Galinhas II


Quem teve a paciência de ler o meu anterior post "Fuga das Galinhas", saberá que atribuo parte da responsabilidade do insucesso dos debates políticos televisivos aos próprios convidados. Estes, nas suas intervenções, nunca apresentam mensagens claras e concisas o que, perante o público, os faz perder credibilidade e, consequentemente, interesse.

Os debates políticos, pela sua natureza de conflito, são palco do já habitual "cacarejar" de intervenientes cujo objectivo deixou de ser a apresentação das suas posições para passar a ser a "derrota" dos adversários.
A táctica preferida de ataque é atribuir intenções ou acções aos oponentes: "os senhores do partido X fizeram/disseram isto e aquilo?"; logo seguido pela defesa do visado: "o senhor não sabe o que está a dizer!"... Entretanto, devido às constantes interrupções dos convidados, os níveis de compreensão baixam. O jornalista, no meio do conflito, tenta ser o mediador que, notoriamente, não está preparado para o ser.

Foi o que aconteceu no passado Sábado, no programa "Parlamento", transmitido pelo canal 2 da RTP. Discutia-se o Orçamento de Estado para 2004 mas só ouvi "galinhês"! Apesar do assunto me interessar, depressa mudei de canal - quantos portugueses não terão feito o mesmo?

Este tipo de programa de informação perde audiências porque os responsáveis (jornalistas e produtores) não conseguem definir e fazer cumprir simples regras de conduta. Também não ajuda os intervenientes esquecerem-se de ser civilizados... No passado Sábado, a falta de respeito dos deputados convidados não foi só para com o público português mas, principalmente, para com a profissional da RTP que "tentou" traduzir o debate em linguagem gestual.


novembro 04, 2003


Expresso do meio-dia III


"Saudita compra dívidas ao fisco"

"Especulador saudita compra dívidas ao fisco português"

Estes foram os títulos usados nas primeiras páginas dos cadernos do Expresso (principal - 1° - e Economia - 2° -, respectivamente), para captar a atenção dos leitores para o artigo sobre a compra das dívidas fiscais do Estado português por uma entidade bancária - o Citigroup - cujo "principal accionista individual" é o bilionário saudita Al Alwaleed.

Indignado, pesquisei o artigo sobre qual a percentagem de controlo accionista este possuia no referido banco. Os seis (6) parágrafos da primeira página do caderno principal nada dizem.
Sigo para o 2° Caderno.
Quatro (4) parágrafros depois, ainda nenhum detalhe sobre o "especulador saudita", "maior accionista individual" do "gigante financeiro norte-americano".
Sigo para a página 5 do referido caderno.
Apenas no oitavo (8°) parágrafo encontro a informação que queria (meu bold):
"No registo da CMVM identificam-se os dois titulares da Sagres: o Citigroup Finantial Products, directamente, com 100%, e Al Alwaleed, indirectamente, com 5,17% do Citigroup Finantial Products" (in Expresso, 1/11/2003)


Primeiro, os jornalistas deviam aprender um pouco de matemática: se o Citigroup Finantial Products possui 100% da "Sociedade de Titularização de Créditos Sagres", então esta tem apenas um titular...

E, segundo, 5,17%? Este alarido todo por um sócio minoritário?
Usando uma analogia cinematográfica: excelente teaser/trailer, péssimo filme!

Continuando a citar os pseudo-jornalistas do Expresso (que citaram a CMVM) - meus bolds:
"Para a CMVM, o facto de Al Alwaleed ser o maior accionista individual do Citigroup não tem qualquer relevo na actividade da titularização de créditos"

"(..) 'o Citigroup, que está cotado em Nova Iorque e é supervisionado pela SEC - Securities and Exchange Commission', refere a fonte oficial da CMVM, esclarecendo que 'o Citigroup é o maior grupo a nível mundial em operações de titularização de créditos'"

São estas "estratégias" de marketing que fazem determinado produto perder a "qualidade percebida": prometem o que não conseguem cumprir.

Assim, subscrevo a seguinte frase do artigo (meus bolds):
"O Ministério das Finanças considera 'lamentável' que a discussão sobre a titularização de créditos desça ao nível da idoneidade dos accionistas do maior banco mundial"


novembro 01, 2003


O erro (publicitário) é humano


O Hidden Persuader cita Leo Burnett:
"If you can't turn yourself into a customer, you probably shouldn't be in the advertising business at all"

e Robb Bell:
"Give your agency a lot of your product. A lot of it. And make sure they use it"

para concluir:
"(...) se queremos melhor compreender uma marca e os seus consumidores, devem[os] começar por nós"

O blog publicitário usou uma má interpretação da frase de Burnett com outra incorrecta de Bell para chegar, penso eu, a uma conclusão errada.

Burnett, ao afirmar que o publicitário deve assumir o papel de consumidor ("turn yourself into a customer"), queria explicar a necessidade do profissional de marketing compreender a ligação emocional do cliente a determinada marca e perceber o processo de decisão de compra deste - compreender, entre outras questões, porque o cliente-alvo compra uma marca e não outra qualquer. Por outras palavras, aplicar um pouco de psicologia comportamental.

Bell, contudo, afirma que a melhor estratégia passa pelos publicitários usarem, eles próprios, o produto.

Um dos comentários ao post exemplifica - e muito bem - o caso do publicitário Nick Marshall, personagem interpretado por Mel Gibson no filme "O Que as Mulheres Querem" ("What Women Want"). Darcy McGuire (interpretada por Helen Hunt), a nova directora criativa, distribui por todos um conjunto de produtos femininos, com o objectivo da agência melhor compreender o consumidor-alvo: a mulher - precisamente a medida defendida por Robb Bell. Nick leva para casa os produtos e experimenta-os, resultando, depois de muita dificuldade, na sua não-mortífera electrocução! Este episódio dá-lhe o poder de ouvir os pensamentos das mulheres e é com esta nova capacidade que ele, finalmente, consegue perceber "o que as mulheres querem"...

Às "duas conclusões axiomáticas" do Hidden:
1 - "os publicitários/marketers moldam os consumidores à sua imagem (com os mesmos hábitos de consumo, percepções da marca, etc.)"
2 - "os mesmos publicitários/marketers comunicam a experiência de uma marca que desconhecem por completo"

Gostaria de sugerir uma terceira:
3 - os publicitários/marketers, muitas vezes, não conhecem os consumidores.

Concluindo, penso que o publicitário deve lutar por ser melhor observador do comportamento humano e não um... "experimentador"!