<$BlogRSDUrl$>

março 30, 2004


Robin dos Bosques V


Há quem pense que o termo "roubar os ricos para dar aos pobres" melhor se aplica às empresas. Este post tem o objectivo de desmistificar tal crença.

Em anterior texto tive a oportunidade de demonstrar que um imposto progressivo sobre os rendimentos dos trabalhadores representa um entrave ao investimento e, consequentemente, ao crescimento da economia - tal redução da poupança (via impostos) limita a capacidade das empresas angariarem investidores por meio da emissão de acções, obrigações ou até de empréstimos bancários (os bancos são apenas os intermediários da poupança dos privados).

Volto ao exemplo da Odete!
Se a Odete investir 100 euros num depósito a prazo do Banco X e, um ano depois, o juro desse depósito for 10 euros, somos levados a deduzir que a taxa de juro do investimento é 10%. Mas se, sobre esse valor, o Estado cobrar 5 euros de imposto então a taxa de rentabilidade do investimento será de 5% (taxa de juro efectiva) - à Odete só interessa o dinheiro que realmente chega sua carteira.

A Odete, contudo, pode desejar maior rentabilidade. Para o efeito, ela terá de incorrer em maior risco com o seu investimento, aumentando, também, a probabilidade de perder parte - ou a totalidade - do capital.

Excluindo investimentos mais "complicados" de explicar, vamos considerar que existem apenas duas outras opções de investimento: obrigações ou acções.

Obrigações são títulos representativos de um empréstimo empresa com o montante de remuneração definido antes da sua emissão. O risco inerente a este investimento está apenas relacionado com a capacidade da empresa gerar fundos suficientes para pagar os seus compromissos.

Por outro lado, investir em acções significa tomar posse da empresa (parcial ou total). O rendimento obtido deste investimento depende, principalmente, do volume de negócios da empresa e margem de lucro (factores variáveis). Deste modo, a incerteza do investidor quanto ao montante e ao horizonte temporal dos rendimentos futuros é, relativamente aos investimentos anteriormente descritos, exponencialmente superior. Assim, para investir numa empresa (comprando acções), a Odete vai "exigir" do investimento, maior rentabilidade média (dado a incerteza dos rendimentos futuros, "exigir" não significa que a consiga obter).

Nota: A rentabilidade das acções depende do lucro, líquido de quaisquer custos.

Então, tal como no exemplo do depósito a prazo, o que interessa à accionista Odete é a rentabilidade líquida de impostos (o que lhe chega ao bolso). Quando o Estado cobra impostos sobre o rendimento das empresas (em Portugal, IRC), o risco do negócio não desce - de facto, até pode aumentar. Logo, a rentabilidade "exigida" pela Odete não se altera.

O Estado - ao confiscar parte do lucro - obriga os gestores das empresas a implementar mudanças de forma a obterem maior lucro. Maior lucro porque, agora com impostos, para manter a rentabilidade "exigida" pelos accionistas (o risco mantem-se), é necessário que o lucro depois de impostos seja igual ao lucro que a empresa gerava antes dos impostos aparecerem.

Os gestores podem faze-lo de duas formas: aumento do preço dos seus produtos/serviços ou redução de custos. Subir os preços tem efeito imediato sobre o orçamento dos consumidores. Quanto ao corte de custos, a opção passa por reduzir salários ou contratar menos trabalhadores - aumentar a produtividade não é uma opção porque tal estratégia já seria aplicada, independentemente da existência, ou não, de impostos. Se nenhuma das duas alternativas for possível de implementar, os accionistas não investem na empresa (não chega a ser criada ou, se já existe, abre falência) ou, em último recurso, "exigem" a fuga aos impostos...

Nota: nas empresas exportadoras, dado o nível de concorrência mundial, a opção de imputar o custo dos impostos no preço cobrado aos clientes não é possível. A única opção é a retenção de custos.

O que significaria a abolição do imposto sobre o rendimento das empresas?
Há quem acredite que tal medida significa dar mais dinheiro aos "ricos". Esquecem, contudo, que as empresas operam em mercado concorrencial pelo que a manutenção de preços altos e/ou salários baixos não é, a médio prazo, sustentável. Se a rentabilidade "exigida" pelos accionistas não é alterada, podemos, então, esperar uma descida de preços dos produtos e serviços e/ou melhores perspectivas no mercado de trabalho. Os "pobres" serão os principais beneficiários!

Conclusão: o imposto sobre o rendimento das empresas não é um imposto aos ricos. É, sim, um imposto indirecto aos consumidores e trabalhadores.

PS: não havendo imposto sobre os lucros deixa de haver parte do "incentivo" à evasão fiscal - desaparecendo, também, a vantagem competitiva de quem a pratica.


março 29, 2004


Trailer


Amanhã, "Robin dos Bosques", a quinta parte!
Podem, entretanto, ler os anteriores posts da série:
Robin dos Bosques
Robin dos Bosques II
Robin dos Bosques III
Robin dos Bosques IV


março 28, 2004


Negligência


Via Adufe, no blog João Tilly, uma história que nunca mais quero voltar a ler:
"Fica aqui o relato dos últimos 5 dias de vida do meu Pai que, acredito, possam servir a alguém que passe pelo mesmo.
Quanto mais não seja para evitar que o Serviço Nacional de Saúde mate por absoluta negligência um seu ente querido, tal como fez com o meu."

À família do João Tilly aqui deixo os meus sinceros pêsames.

PS1: sem querer desrespeitar a memória do pai do João Tilly (JT), não culpo, ao contrário do Terras do Nunca, apenas as pessoas. O que aconteceu é reflexo do sistema de saúde que os nossos impostos pagam: um monopólio estatal! Pessoalmente, preferia que os impostos pagos pelo JT nunca tivessem saído do seu bolso de forma a que, na altura de escolher os melhores cuidados médicos para o seu pai, este o pudesse fazer com total liberdade (sem se preocupar com os constantes reencaminhamentos para o "hospital da área de residência").

PS2: o João Tilly publica "3 regras que podem salvar a vida dos doentes que cairem nas mãos do sistema publico de saúde em Hospitais de Grande Dimensão".


Concorrência Fiscal IV


Mais uma vez, via Intermitente (na blogosfera portuguesa, uma visita obrigatória!), um excerto que caracteriza a concorrência entre nações (meu destaque):
" (...) firms can sometimes move their operations altogether to avoid taxes and regulations. The world is now, whether it wants to be or not, a set of competing nations much as America is a set of competing states and localities; the major competition is for capital. The tools used are the same as well: tax cuts and subsidies, cheap resources, and cheap labor.

As Walter Wriston once said, «Capital goes where it's needed and stays where it's well-treated.»"

Será o capital bem tratado em Portugal?
Segundo um artigo do Expresso, o "investimento directo estrangeiro (IDE) está a cair há três anos"....


Financiamento da Cultura II


Ainda a respeito do projecto de Belgais, a 4a Ferida Narcísica pensa que estou "enviesado pelas elevadas regras do marketing". No entanto, em posts anteriores procurei apenas demonstrar as causas do desinteresse da sociedade civil em projectos culturais de mérito. Penso que encontrei a principal causa na forma de financiamento de tais projectos: via Estado.

Ao contrário do que a 4a Ferida Narcísica possa pensar, nos meus posts nunca esteve em causa o mérito do projecto da pianista Maria João Pires.

Esteve em causa, sim, as razões para o baixo nível de interesse da sociedade civil em contribuir directamente para construção de semelhante projecto - contribuição financeira e emocional. Penhorar ao Estado tal decisão de financiamento (através de elevados impostos) significa, em minha opinião, perpetuar o desinteresse dos portugueses.

E, em Marketing não basta descobrir o que está mal. Há que encontrar soluções!

No caso de Belgais, tal como em tantos outros projectos, existem 2 (dois) problemas:
1. necessidade de financiamento externo (o projecto não produz suficientes receitas próprias);
2. desinteresse da sociedade civil.

O financiamento estatal resolve o primeiro problema. Mas não o segundo! Obter o compromisso de privados é, assim, a solução mais eficaz. Em consequência da análise efectuada, sugeri algumas iniciativas de autopromoção.

Nota: à Maria João Pires interessa-lhe apenas a resolução do problema financeiro. Contudo, ao seguir-se esta via, todos ficamos mais pobres (financeira e culturalmente).

"Enviesado pelas regras do marketing"? Talvez! Mas ainda não li quaisquer outras propostas que tentem resolver o que o Aviz caracterizou por país "ignorante em matéria musical"...

PS: aos interessados nas sugestões referidas, aconselho a leitura do anterior post intitulado "Financiamento da Cultura".


março 26, 2004


Barões do Petróleo II


As diferenças do preço da gasolina entre os 50 estados americanos depende, principalmente, do nível de intervenção estatal no mercado (meus destaques):
"[P]art of the higher cost at the pump has nothing to do with the price of petroleum. Despite a national economic recovery, state budgets are still reeling from the impact of the latest recession. And gasoline taxes have provided a ready source of cash (...).

State governments have played another important role in the recent price spike at the pump. To meet air quality standards under the federal Clean Air Act, some states require reformulated gasoline - special blends that make gasoline burn cleaner and reduce pollutants during the summer months. But with some 15 different blends called for by state regulators, gasoline refined for one market can’t be sold in another area where a different blend is required."

A diferença de preços entre os 15 estados-membros da União Europeia não se equipara ao exemplo americano. Por cá, todos os países têm elevados impostos sobre a gasolina...

PS: vejam o caso português.


Maiorias


No Blasfémias, questiona-se a quem serve o Estado:
"O problema (...) é que [o Estado] desenvolveu uma máquina coerciva que lhe permite impor todas as arbitrariedades que entenda, legitimado pelo uso quase formal do voto universal e democrático. Na verdade, actualmente, a democracia tem um valor exclusivamente negativo, importante sem dúvida, que nos permite afastar do governo quem lá se encontra, sem recurso a métodos violentos. Mas esgota-se nisto."

Leitura recomendada!

Concordo, em parte, com o autor. Mas, quem governa está lá porque houve uma maioria que o elegeu. Consequentemente, os valores do Estado são reflexo das crenças sociais e económicas dessa maioria. A questão essencial é o nível de coerção exercida sobre as minorias.

Em comparação ao acto eleitoral, no mercado livre as escolhas são relativamente fáceis de tomar: se o consumidor não está satisfeito com o produto ou serviço, não o volta a comprar! Com o Estado, a liberdade de escolha das minorias é limitida pela vontade das maiorias.

É parte da natureza humana ambicionar, em maior ou menor grau, o que não temos. É a forma como conseguimos o que queremos que está em causa. Um indivíduo que respeita as liberdades dos outros tentará alcançar melhor qualidade de vida - para si e para a sua família - através dos recursos que possui (financeiros, intelectuais ou somente vontade de aprender e trabalhar). Outros preferem que seja o Estado a fornecer-lhes tais melhorias. Mas o Estado só o pode fazer através de impostos, ou seja, confiscando recursos. Assim, há indivíduos que, apesar de dizerem que o roubo é moralmente errado, defendem a sua prática. Infelizmente, estes últimos são a maioria!


março 25, 2004


Financiamento da Cultura


Este é um comentário à resposta do Aviz a outro meu comentário a post do mesmo autor que comentava a minha opinião sobre a posição deste na questão do financiamento estatal do projecto de Belgais!

A "conversa" vai longa mas interessante! Podem usar os links - abrem em novas janelas - para seguirem o processo que nos levou aqui. Sugestão: comecem do fim para o princípio!
[NOTA: Dado o blog Aviz não permitir links directos aos posts em causa, sugiro que deixem o cursor alguns segundos sobre o meu link para perceberem qual o título do post linkado e a data da sua publicação. Aviz, trata-se de um "problema" no código HTML da Template. Se o quiser resolver, pode contactar-me para o efeito (email ao lado).]

Agora o comentário:

O Aviz diz que o National Endowment for the Arts (NEA) e o National Endowment for the Humanities (NEH) "não são senão uma parte do orçamento americano para as artes e as letras - muito reduzida e parcial" - apesar de a presidente da NEA escrever, no relatório anual (2,1 MB - PDF), que a referida instituição é "the largest funder of the arts in the United States"!!! De qualquer forma, quanto a financimentos "laterais", caro Aviz, permita-me dizer-lhe que o mesmo acontece em Portugal: por exemplo, no caso de Belgais, o financiamento estatal não é só proveniente do Ministério da Cultura mas, também, do Ministério da Educação, do Instituto das Artes, da Câmara Municipal de Castelo Branco e da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova.

No entanto, a questão fundamental vai além da comparação de orçamentos de entidades públicas americanas e portuguesas das quais, aliás, já declarei que não apoio a sua existência!

O que realmente importa está presente nas seguintes afirmações do Aviz (meu destaque):
"[H]á uma responsabilidade social da riqueza e uma ética do dinheiro que o mundo dos «ricos portugueses actuais» desconhece.
(...)
Do que eu me queixo bastante, meu caro, é do facto de a «sociedade civil», ou os «privados», ou seja lá o que for, não ter bastante gente educada, culta, interessada. E de se ter desinteressado de Belgais. Acha esta opinião absurda, naturalmente; mas a verdade é que o País definha também por causa disso."

De facto, essa é uma opinião que não acho absurda! Acho sim, absurdo.... ou melhor, contraditório, defender o financimento público da Cultura e depois "queixar-se" do desinteresse dos privados.

O que em posts anteriores procurei demonstrar foi a existência de uma relação causal entre o excessivo peso do Estado na economia e o nível de desinteresse da sociedade civil por projectos culturais. Quanto à elevada carga tributária sugiro-lhe o meu post "Robin dos Bosques III"!

A respeito do desinteresse dos privados, volto ao exemplo de Belgais:
Apesar da excelência do projecto, a sua criadora, a pianista Maria João Pires (MJP), decidiu captar o interesse dos governantes para obtenção de financiamento - particularmente a atenção do então ministro da Cultura, Manuel Maria Carrilho.

Porquê o Estado e não os privados? Porque não existia - e ainda não existe - interesse dos privados pela Cultura. Os privados pouco conhecem do projecto porque nunca houve a preocupação em envolve-los no processo!

Uma vez recebido o financiamento público, MJP não mais necessitou de preocupar-se com o nível de interesse pelo projecto. Até ao próximo financiamento.

Entretanto, houve novas eleições: mudou o Governo, mudaram as políticas. E, a recessão - iniciada pelo anterior governo e não resolvida pelo actual - também não ajudou...

Contudo, a principal solução de MJP foi queixar-se do Estado português à imprensa nacional e estrangeira. Outra solução seria tentar convencer a sociedade civil dos méritos culturais e educacionais do projecto de Belgais. Teria sucesso? Não sei, mas deixo-lhes algumas sugestões:
- concertos de angariação de fundos;
- pedidos de donativos, nos programas da manhã das televisões e rádios, para a conta bancária do Centro de Artes de Belgais;
- sessões de autógrafos das obras interpretadas por MJP;
- actualização regular do site do projecto de Belgais (através, talvez, de um blog?):
- disponibilização, no site, de samples da música gravada em Belgais;
- organização, em parceria com orquestras portuguesas, de concertos nas escolas e universidades de forma a promover autores como Bach, Bethoven, Chopin, Mozart, Schumann,Wagner, etc;
- organização de visitas guiadas ao Centro de Artes de Belgais (durante os períodos de férias dos alunos);
- contratos de patrocínio com empresas privadas (que, contudo, necessitariam de maior exposição mediática do projecto).

Provavelmente, à MJP, é mais fácil "bater o pé" nas redacções dos jornais e esperar que o Estado continue a "bombear", para Belgais, o dinheiro dos contribuintes. Mas, assim, o desinteresse do público português continuará a ser uma realidade.

PS: O interesse da sociedade civil por instituições sem fins lucrativos existe. Faltam, sim, iniciativas de auto-promoção. Veja-se o exemplo de sucesso do Banco Alimentar.


março 24, 2004


Fraude Cultural II


O Aviz respondeu ao primeiro post "Fraude Cultural"! Devo esclarecer o autor do referido blog que o título do meu post não é dirigido a ele ou à pianista Maria João Pires [fundadora do projecto de Belgais]. É, sim, uma forma de caracterizar a acção do Estado neste sector de actividade: cobra impostos para financiar a Cultura (dizendo que sem estes não haveria actividade cultural) retirando ao cidadão, deste modo, a capacidade financeira de contribuir para projectos de, segundo palavras do Adufe, "mérito cultural e educacional". Esta forma de roubo limita o orçamento que o cidadão teria disponível para fazer donativos e exclui-o, assim, do processo de decisão sobre quais projectos culturais financiar - o que, por exemplo, é uma das principais causas do desinteresse na Cultura (e que o Aviz designa por país "ignorante em matéria musical").

Para justificar a importância do papel do Estado na promoção da Cultura, o Aviz sugere a consulta dos documentos do National Endowment for the Arts (NEA) e do National Endowment for the Humanities (NEH). Apesar de também não concordar com a existência de tais organismos estatais, segui o conselho e consultei os documentos da NEA!

O NEA, segundo o relatório financeiro de 2002 [PDF], tem um orçamento de 100.527.633 dólares que, à taxa de câmbio de hoje, 24 de Março (1 euro/1,2196 dólares), equivale a 82.426.724 euros.

Entretanto, verifiquei, também, para o ano de 2002, o orçamento do nosso Ministério da Cultura: 326.245.348 euros (o total que consta na tabela é 305.628.248 euros mas tive o trabalho de somar as rubricas...).

Uma vez que nem todas as despesas têm origem em fundos públicos (existem receitas próprias!!!) ou se referem ao financiamento das Artes (ex: despesas adminstrativas), tive de efectuar alguns cálculos. Em resumo, o financiamento público das Artes, em Portugal, ascende a 73.679.466 euros (conforme tabela seguinte):

InstituiçãoEuros
Orquestras Regionais1.184.497
Casa da Música997.596
Instituto de Arte Contemporânea1.794.797
Centro Português de Fotografia1.994.260
Instituto Português das Artes do Espectáculo23.581.421
Academia Nacional de Belas Artes302.772
Companhia Nacional de Bailado4.095.130
Fundo de Fomento Cultural5.486.777
Teatro Nacional de S. Carlos13.268.023
Teatro Nacional de D. Maria II4.234.535
Teatro Nacional de S. João3.950.480
Orquestra Nacional do Porto5.072.775
Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia4.978.003
Cinemateca Portuguesa/Museu do Cinema2.738.400
Total73.679.466


O Estado norte-americano, em "representação" de uma população de 250 milhões, financia as Artes em cerca de 82,5 milhões de euros. Portugal, com 10 milhões de habitantes, tem um Estado que financia as Artes em 73,7 milhões de euros. Haverá, da parte do Aviz, qualquer dúvida em relação ao Estado que mais peso exerce sobre a sua economia???

No mesmo post, ironizando sobre quem devia avaliar o mérito dos projectos culturais, perguntei:
"Mas, se «cada caso é um caso», quem deve avaliar sobre qual o projecto merecedor dos subsídios do Estado? O Aviz? Eu???"

A resposta do Aviz:
"Bom, suponho que o Estado tem o dever de avaliar que projectos merecem os seus apoios e investimentos. é para isso que também existe. Aqui, no caso de Belgais, não se trata de subsidiar um projecto de criação, de vanguarda, de teatro experimental ou de poesia feita por encomenda para comemorar o 5 de Outubro. Enquanto não se compreender isso, não há debate."

Ao defender o financiamento estatal da Cultura, o Aviz penhorou no Estado a sua capacidade de decisão (por causa dos impostos, já não pode escolher a quem dar o dinheiro), mas, mesmo assim, quer influenciar os governantes quando diz que "no caso de Belgais, não se trata de subsidiar um projecto de criação, de vanguarda, de teatro experimental ou de poesia feita por encomenda". Não sei o Aviz terá notado, mas com essa afirmação ele está a querer impôr os seus gostos culturais ao cidadão que prefere eventos de "vanguarda, de teatro experimental ou de poesia". Tem o Aviz direito de o fazer? Tenho eu? Claro que não!!!

PS1: ao Ideias Soltas, quero dizer que não sou "afecto ao actual governo ou ao anterior; se tiver a oportunidade de ler alguns dos posts neste blog notará que - porque acredito na maximização da liberdade do cidadão - defendo um Estado mínimo (ou até inexistente).

PS2: ao Klepýdra, quero sugerir-lhe a leitura do meu post intitulado "Robin dos Bosques III"; verá que a razão para os "liberais cheios de dinheiro" não criarem "prémios, programas de investimento e doações" poderá ter a haver com o facto de já serem suficientemente roubados em nome, entre outros, da Cultura!


março 23, 2004


Evil Empire


Via Mises Economics Blog, uma entrevista a Charles Adams, autor do livro "For Good and Evil: the Impact of Taxes on the Course of Civilization":

mp3 [56m:36s - 6,5 MB]

Interessante a relação causal entre o excessivo peso dos impostos e revoluções. Por exemplo, na Revolução Francesa, os cobradores de impostos foram dos primeiros a perder a cabeça na guilhotina...

Nota: livro também disponível na Amazon.com e Amazon.co.uk!


Belgais


Via Liberdade-de-Expressão, aos bloggers e leitores que manifestaram interesse pela continuação do projecto de Maria João Pires, podem faze-lo através, não só de palavras de protesto, mas de donativos na seguinte conta da Caixa Geral de Depósitos em Castelo Branco:
NIB: 0035 0222 00074422530 23
(confirmem o número no site do Centro para o Estudo das Artes de Belgais).

Serviço disponível em qualquer ATM ou banco online!

Donativos de 0 (zero), 5, 10, 100, 1.000, 5.000 euros! O montante a doar será vossa escolha - não do Estado (via impostos).

PS: porquê os privados e não o Estado? Leiam o post anterior!!!


março 22, 2004


Fraude Cultural


No Aviz, um post de apoio aos subsídios estatais do projecto de Belgais (meus destaques):
"Belgais não é uma peça de teatro no Bairro Alto nem um grupo «de vanguarda» que choraminga porque o Estado não cedeu à sua chantagem habitual para produzir mais um fait divers. Belgais é uma escola, um centro de investigação musical, um auditório para que músicos realmente importantes se encontrem, trabalhem e produzam música, que é um bem inestimável num país de merda que tem tagarelas à altura mas que é ignorante em matéria musical. Não se trata de «um espaço» inútil: ali, aprende-se música, conservam-se partituras, e ensina-se. Num país que ignora brutalmente as artes sérias e as ciências importantes, eu defendo que se deve apoiar Belgais. Porque cada caso é um caso, independentemente do que se possa pensar sobre a política geral de atribuição de subsídios à cultura, nível em que Belgais se salienta pela atenção que dá à formação."

Mas, se "cada caso é um caso", quem deve avaliar sobre qual o projecto merecedor dos subsídios do Estado? O Aviz? Eu???
O Aviz parece querer deixar essa tarefa aos pseudo-intelectuais do Ministério da Cultura! E, no entanto, no final do mesmo post, lamenta a escassez de donativos privados:
"Os ricos, em Nova Iorque, contribuem mais do que generosamente para que o Central Park seja limpo, ordenado, vigiado e protegido. Nos EUA, aliás, as universidades recebem dinheiro dos ricos, que financiam as suas bibliotecas e oferecem bolsas. Em Portugal, já vão longe os tempos em que os ricos -- como no Minho, por exemplo, Cupertino de Miranda -- erguiam bibliotecas, ofereciam livros, contribuíam para centros médicos e de velhice, e, sim, construíam fontanários, que eram um bem necessário e útil nas aldeias. (...) Actualmente, o mundo dos ricos é ocupado por aventesmas que mostram a sua casa nas revistas, ao lado dos políticos e das estrelas de televisão que vão à ilha da Caras, e que têm uma sensibilidade de rinoceronte. Não conhecem Belgais como não conhecem música."

Segundo o Aviz, os ricos portugueses são mais avarentos que os americanos. Contudo, a principal causa dos reduzidos apoios privados não é avareza mas, sim, o peso do Estado na economia. Este, ao assumir o papel de decisor dos projectos culturais a financiar, eliminou - através dos impostos - a liberdade de escolha de cada indivíduo.

Por exemplo, o facto de um assaltante usar o dinheiro roubado para alimentar a sua família não faz o acto, em si, menos condenável. Ao cidadão assaltado foi-lhe retirado, pelo uso da força, a opção voluntária de ajudar a família em questão. A lei, independentemente do destino do dinheiro roubado, não permite tal prática pelo que, caso seja capturado, o ladrão sujeita-se a ter de cumprir tempo de prisão. Mas, tal lei não se aplica ao Estado!!! Assim, o desinteresse pela música - e por Belgais em particular - é a consequência natural da prática de roubo impune.

Nota: se somos um país "ignorante em matéria musical", isso deve-se ao distanciamento entre projectos culturais e a sociedade civil que paga por estes. Para Maria João Pires, foi mais fácil captar o interesse de meia dúzia de burocratas! Infelizmente para Belgais, os burocratas no poder mudaram...


Desinformação


Durante o Jornal da Noite da SIC, no passado Sábado, o jornalista Paulo Camacho discordou do comentador José Pacheco Pereira (JPP) ao afirmar que não houve, ainda, progressos no Iraque. Isto, apesar de informação contrária em recente sondagem (leiam o meu anterior comentário sobre tal prática jornalística).

Mas, JPP, cerca de 20 horas antes, escreveu no seu Abrupto (via Causa Liberal) [meus destaques]:
"(...) exemplos [de manipulação da informação] seriam fáceis de encontrar em praticamente todos os noticiários sobre o Iraque, os quais são verdadeiras profissões de fé opinativas dos jornalistas, em todos os órgãos de comunicação social, quase sem excepção, com destaque para a televisão.

(...) documentos sem dúvida importantes para um julgamento equilibrado (nada mais seria preciso) sobre questões polémicas, são ,ou ignorados, ou tratados num contexto hostil. É o caso da sondagem feita no Iraque pelas grandes televisões ocidentais e reconhecida como a mais fidedigna até hoje realizada. Convenhamos que ela tem mais peso do que o senhor jornalista singular que diz que «os iraquianos com quem falei estão todos revoltados…». Se calhar é verdade, mas talvez a sondagem tenha um pouco mais de força…"

Conclusão: Paulo Camacho - além de mal informado - não lê o Abrupto!!!


março 21, 2004


Kama Sutra Político


Ontem, na primeira página do semanário Expresso (meu destaque):
"Sobre a posição de José Luís Zapatero - o socialista vencedor das eleições em Espanha, que anunciou ir retirar as tropas espanholas do Iraque -, Vieira da Silva [porta-voz do Partido Socialista] disse não comentar posições de líderes de outros países."

Estranho! Nos últimos anos, dos membros do PS, não houve falta de comentários às "posições" do presidente norte-americano, George W. Bush...


Fuga das Galinhas IV


Quem costuma passar por este blog já sabe que o supracitado título é dedicado ao "galinheiro" presente nos debates televisivos portugueses. Embora em menor escala, o fenómeno também acontece nas reportagens e entrevistas transmitidas nas televisões portuguesas. Transcrevo um post do Desesperada Esperança:
"Pacheco Pereira na SIC. Paulo Camacho não percebe que aquilo não é um debate, e diz, contra o que JPP estava a dizer, que os EUA ainda não conseguiram fazer progressos no Médio Oriente. Enfim, é a sua opinião, que devia ter guardado para si, mas isso é outra questão. Claro que ele deve saber isso melhor que, sei lá, os iraquianos, que nesta sondagem [PDF], até disseram que as coisas estavam melhores do que antes da guerra. Mas, reconheço, que sabem eles? Pobres diabos. Paulo Camacho disse que não, e ele deve saber muito melhor..."

O profissionalismo de um entrevistador caracteriza-se, também, pela capacidade de se manter informado e de não "interferir" na opinião do entrevistado. Paulo Camacho tem, tal como a maioria dos seus colegas de profissão, o costume de interromper o raciocínio do entrevistado com novas perguntas e/ou opiniões - por outras palavras, fala fluente "galinhês"! Transcrevo duas das regras de senso-comum publicadas no primeiro post intitulado "Fuga das Galinhas":
5. Os jornalistas devem ser imparciais – a maioria pensa que é mas, em alguns debates, estes parecem falar mais que os convidados. Apesar de terem a sua opinião, o público está interessado em ouvir as opiniões dos convidados e não a dos jornalistas;
6. O jornalista não deve interromper a resposta do convidado com outra pergunta (...)

Infelizmente a eficaz aplicação destas simples regras - apesar de qualquer jornalista as conhecer - deixa muito a desejar. Assim, numa entrevista, debate ou reportagem, o acesso do público à informação é deturpada, tornando a qualidade do produto inferior ao seu potencial. Um canal de televisão - que queira ser forte neste segmento de mercado - deve ter especial atenção à forma como a informação chega ao espectador. Um debate ou entrevista não é uma conversa de esplanada. Trata-se, sim, de um veículo de transmissão de informação!

Aos interessados (Paulo Camacho?), sugiro que leiam os anteriores posts sobre o assunto: "Fuga das Galinhas I", "Fuga das Galinhas II" e "Fuga das Galinhas III".


março 20, 2004


Na Cauda de Um Continente


No Ludwig von Mises Institute, excerto de um artigo sobre a crise económica argentina (meus destaques):
"At the same time, the central government was engaged in privatizing moribund state firms and assets, which supplemented the treasury's revenue intake. In sum, Argentine authorities could not run budget balances even amid robust economic growth and one-off collections of privatization proceeds.

As one would expect, the necessity of borrowing to sustain public spending in even the best of economic conditions portended fiscal travails for Argentine politicians as recession beset the country in 1998. Declining tax revenues coupled with rising demands for social spending (the other side of the cyclical coin) made fiscal consolidation more difficult to enact."

Condenação política pela dificuldade em, durante uma recessão, efectuar a consolidação orçamental que deveria ter sido realizada durante o período de crescimento? Faz-me lembrar um país europeu...


março 19, 2004


A Solução Socialista


Ontem, no Público:
"O encerramento da fábrica portuguesa da Bombardier chegou ontem ao Parlamanto através do PS e PCP.

O comunista António Filipe defendeu «uma intervenção imediata do Governo», por entender que Bombardier «tem plenas condições de viabilidade económica».

(...) o deputado socialista José Junqueiro responsabilizou «a grave crise económica que atravessa o país, que é da responsabilidade do actual Governo»."

Em Janeiro passado já Ferro Rodrigues, secretário geral do Partido Socialista, tinha "exigido" a intervenção do governo. O meu comentário publiquei-o nesse dia!

PS: as afirmações do deputado socialista José Junqueiro, sobre as responsabilidades da "grave crise económica" têm excelente eficácia: a maioria da população não percebe de Economia...


março 17, 2004


Barões do Petróleo


Segundo recente artigo do semanário Expresso - na edição de 13 de Março, caderno Economia & Internacional - o preço de venda ao consumidor da gasolina sem chumbo 95 engloba uma carga fiscal de 70% (0,9627 euros de preço de venda versus 0,2864 euros sem incluir os impostos). Quanto ao gasóleo a carga fiscal é "apenas" de 42%! E há países europeus com maiores impostos...

Nos EUA, os americanos estão preocupados com o preço da gasolina poder chegar aos $2 por galão (1 galão = 3,785 litros) o que - convertendo para euros à taxa de câmbio de 1,2251 dólares por euro - corresponde a um preço de 0,43 euros por litro de gasolina. Actualmente, o preço médio da gasolina nos EUA é de $1,74 por galão (0,38 euros por litro). 61% mais barata que em Portugal.

Será o baixo preço do combustível outra das razões da diferença de crescimento entre a economia americana e europeia?


março 16, 2004


Homem, Economia e Estado


No Ludwig von Mises Institute, excertos do livro "Man, Economy and State (with Power and Market)", de Murray N. Rothbard:
"[T]he proponents of government intervention are trapped in a fatal contradiction: they assume that individuals are not competent to run their own affairs or to hire experts to advise them. And yet they also assume that these same individuals are equipped to vote for these same experts at the ballot box."

Uma pequena amostra de um verdadeiro tratado de Economia (e muito mais). Podem explorar todo o texto aqui (por enquanto, disponível apenas em formato PDF) mas recomendo que o comprem! São 1.544 páginas...


março 09, 2004


Ensino... Superior IV?


Via Observador, a fuga dos cérebros europeus (meus destaques):
"«Investigação: porque é que a fuga de cérebros ameaça a França». Assim anunciava o «Le Monde», a toda a largura da sua primeira página da edição com a data de 3 de Março as páginas especiais que consagrava ao drama hoje vivido na Europa: os seus melhores estão a partir para os Estados Unidos.

Já na Europa, com raras excepções - como a Finlândia e a Suécia - continuava-se a não apostar no rápido crescimento do investimento em investigação. A não conseguir atrair fundos estrangeiros. A tudo depender demasiado dos Estados e a existir uma insuficiente contribuição das empresas para o esforço de investigação e desenvolvimento. E as suas universidades a verem os seus melhores alunos partirem.

O problema é ainda mais grave quando passamos ao detalhe e percebemos que o que diferencia boa parte da Europa dos Estados Unidos e da ásia não é apenas a quantidade de dinheiro que colocam nas mãos dos investigadores, mas o esclerosamento das suas estruturas universitárias e laboratoriais."

Se o Estado é tão eficiente como alguns políticos querem fazer crer, porque, então, saem os melhores investigadores europeus de universidades públicas para irem trabalhar nas universidades privadas americanas???


True Believers


Via Blasfémias, um post de Filipe Moura no Blogue de Esquerda (II) [meus destaques]:
"Embora não parecessem assim quando eram ouvidos, os «gritos» de Dean eram na verdade bem tímidos, e foram proferidos numa altura em que a sala cheia dos seus apoiantes o ovacionava em peso. Quem estava na sala nem terá ouvido Dean gritar. Mas o som captado pelo microfone, ao ser emitido fora deste contexto, dava uma impressão totalmente errada ao ouvinte. Emitir esse som só se justificaria por lapso ou por má fé. As cinco principais estações de televisão americanas reconheceram que foi por lapso e pediram desculpas ao candidato. Só que a primeira impressão conta muito, o mal já estava feito e a emissão já tinha ido para o ar. Assim se destruiu a candidatura do único político que poderia trazer alguma coisa nova à política americana, para além de ser o único dos principais candidatos que se opusera, incondicionalmente, desde o início, à guerra com o Iraque."

Mas, em Iowa, antes do referido discurso, Dean já tinha perdido a liderança nas sondagens!

Presumo que o Filipe Moura não teve a oportunidade de ver o programa CNN Presents: True Believers sobre os bastidores da candidatura de Howard Dean, transmitido no passado fim-de-semana. É que os "gritos" foram apenas o culminar de uma campanha mal organizada - liderada por Joe Trippi.

A seguir, tento enumerar alguns dos factos relevantes da campanha:
[31 de Maio, 2002] Dean é o primeiro a apresentar a candidatura à presidência pelo partido Democrata;

[Primavera, 2003] Com discursos contra a guerra no Iraque, Dean ganha rapidamente o apoio dos activistas;

[Primavera/Verão, 2003] Através do blog no seu site e a organização dos apoiantes via Meetup.com, a base de apoio à candidatura de Dean cresce rapidamente - Joe Trippi, director de campanha de Dean, é um fervoroso adepto do poder da internet;

[Agosto, 2003] Dean aparece na capa das revistas Time e Newsweek;

[30 de Setembro, 2003] Dean angaria 14,8 milhões de dólares (a maioria do dinheiro foi doado via internet, em pequenas quantias) e quebra o recorde da candidatura de Bill Clinton;

[8 de Novembro, 2003] A campanha de Dean recusa cerca de 19 milhões de dólares de fundos federais - para evitar o limite de despesas de 45 milhões de dólares, imposta pela lei de financiamento;

[Outono, 2003] Os restantes canditados democratas começam a atacar Dean, líder nas sondagens;

[15 de Dezembro, 2003] Dean comenta que a captura de Saddam não torna o país mais seguro - os outros candidatos atacam-no pela sua posição;

[8 de Janeiro, 2004] A NBC transmite excertos de uma entrevista, de quatro anos antes, em que Dean acusa o sistema caucus em Iowa estar dominado por "extremistas e interesses especiais";

[19 de Janeiro, 2004] Dean fica em terceiro nas primárias do estado de Iowa (Kerry 38%, Edwards 32%, Dean 18%), apesar de um mês antes estar a liderar as sondagens;

[19 de Janeiro, 2004] Durante o discurso de derrota, Dean esquece as funcionalidades do microfone e junta os seus gritos aos da audiência;

[22 de Janeiro, 2004] Entrevista de Diane Sawyer (ABC News) ao casal Dean - reacções destes às notícias sobre o discurso dos "gritos" (nenhuma justificação sobre o microfone);

[20 a 27 de Janeiro, 2004] Dean faz campanha em New Hampshire (próximas primárias) - Joe Trippi não acompanha o candidato e permanece no quartel-general da campanha em Burlington, Vermont;

[27 de Janeiro, 2004] Dean fica em segundo nas primárias de New Hampshire (Kerry 39%, Dean 26%);

[28 de Janeiro, 2004] Diane Sawyer investiga a história dos "gritos" e descobre que o microfone possui uma funcionalidade de eliminação do ruído de fundo - apresenta video do ponto de vista da audiência (não se ouvem os "gritos");

[28 de Janeiro, 2004] Joe Trippi, director da campanha de Dean, demite-se;

Logo de início, Dean conseguiu uma significativa vantagem nas sondagens devido ao lançamento da sua candidatura antes dos restantes candidatos e à estratégia de angariação de apoio na internet. No entanto, os ataques às afirmações de Dean (defesa das "pessoas com bandeiras confederadas nos seus carros", captura de Saddam, entrevista sobre o interesses especiais do caucus de Iowa, microfone, etc) e a incapacidade da sua organização gerir estas crises, tiveram como consequência a perda da liderança conquistada e, consequentemente, as hipóteses de vitória nas primárias.

Ainda, os seus apoiantes eram maioritariamente jovens, muitos não habitavam no estado de Iowa e poucos alguma vez participaram numa campanha eleitoral. A vontade de mudança não conseguiu suplantar a inexperiência destes jovens apoiantes - experiência que seria necessária para persuadir o eleitorado.

Não foi a cobertura mediática do discurso em Iowa que "destruiu a candidatura de Dean". Foi, sim, a organização que este montou para gerir a campanha. E as suas posições políticas!


março 04, 2004


Erro Estratégico IV


Hoje, no Público (meus destaques):
"Um grupo desconhecido, chamado AZF, afirma ter dispersado dez bombas na rede ferroviária francesa e ameaça fazê-las explodir se o Estado não lhe pagar um resgate de quatro milhões de euros e um milhão de dólares.

O presidente da companhia ferroviária SNCF, Louis Gallois, anunciou que dez mil funcionários foram mobilizados para "passarem a pente fino" os 30 mil quilómetros de caminhos-de-ferro em França. A inspecção, feita a pé, deve terminar hoje de tarde."

A 12 de Janeiro, uma notícia sobre o TGV português:
"O primeiro-ministro afirmou hoje que os mais de dez mil milhões de euros a investir no projecto de ferrovia de alta velocidade, TGV, em Portugal vão estimular a economia em até 1,7 por cento do PIB (Produto Interno Bruto).

De acordo com o chefe de Governo, os estudos efectuados apontam também para a criação, pelo projecto, de cerca de 90 mil novos postos de trabalho directos e indirectos."

Nesta nova era de terrorismo global, será que os estudos efectuados também consideram os custos da segurança de centenas de quilómetros de linha férrea?


março 02, 2004


Robin dos Bosques IV


Volto às aventuras do "herói" inglês! (leiam as partes I, II e III - os links abrem em novas janelas!)

"Roubar os ricos para dar aos pobres". Esta forma de justiça social está enraizada nas mentes da maioria da população - e, por consequência, na classe política.

Verifica-se, conforme post anterior, que a carga tributária dos salários mais altos pode ascender a 60% da remuneração paga pela empresa. Este valor é, provalvelmente, superior, dado que - nos pressupostos assumidos - considerei, para o consumo, uma taxa média de IVA de apenas 12%; mas quanto maior o rendimento, menor é o consumo de produtos e serviços com baixas taxas de IVA (actualmente, o IVA varia entre 5% e 19%).

A desigualdade de tratamento dos contribuintes é um incentivo à evasão fiscal. Para a combater, o Estado investe em dispendiosos recursos (leis, processos administrativos, informatização, fiscais, etc), financiados por uma carga tributária cada vez mais pesada - incentivando ainda mais a evasão. Contudo, deveria, antes, haver a avaliação da eficiência das medidas do Estado em redistribuir riqueza - aplicadas através de taxas de imposto progressivas.

Penso que será senso-comum o facto dos cidadãos com remunerações mais altas, em situação de igualdade tributária, serem - em percentagem do seu rendimento bruto - os que mais poupam. E, hoje em dia, as poupanças já não ficam dentro do colchão: elas são investidas! Ao confiscar recursos, o Estado está, deste modo, a reduzir o nível de investimento privado na economia.

No entanto, a crença na eficiência dos investimentos públicos persiste - que, a verificar-se, não haveria, em termos de criação de riqueza, qualquer diferença entre investimento privado e público. Tento a seguir desmistificar o dogma:
1 - o Estado, como intermediário entre o agente económico criador de riqueza e o projecto de investimento, consome recursos que não seriam necessários se fosse possível ao agente económico privado faze-lo directamente;
2 - o grau de fiscalização do investidor privado é maior (trata-se do seu dinheiro!);
3 - a gestão, estratégia e liderança dos investimentos privados não depende de ciclos eleitorais;
4 - um investidor privado avalia um investimento pela sua rentabilidade financeira e risco (e não pela garantia de vitória nas próximas eleições);
5 - o gestor de um projecto de investimento privado é nomeado pela sua capacidade de criação de riqueza (não pela sua capacidade de retórica ou ideologia política);
6 - o agente económico privado não continua a investir em modelos de negócio ineficazes (apenas por razões ideológicas);
7 - um mau investimento privado não tem consequências devastadoras para toda a economia.

Se os investimentos públicos são menos eficientes, então a cobrança de elevadas taxas de imposto aos contribuintes que mais investem é uma forma de destruição de riqueza - e, claro, de emprego!!!

"Roubar os ricos para dar aos pobres"! Alguém ainda acredita na fábula?