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agosto 29, 2003


"Vestir" a casa?


A Inditex, empresa-mãe da Zara, decidiu diversificar e investir no mercado da decoração ao criar a marca Zara Home (via Empreender).

Pergunta o Empreender (post de 28 de Agosto):
"Como estender o negócio dos trapos "a objectos de decoração, roupa para a casa e acessórios de cozinha"?"


O Consumering tem uma opinião sobre as marcas que "diversificam".

Do seu post "Michael Jordan é um mau jogador de baseball":

Convencidos que têm na mão clientes ordeiros e respeitadores, demasiados gestores ambiciosos tratam de levar as suas marcas para novos segmentos e mercados onde o benefício da marca não faz grande sentido. Os resultados são geralmente maus, ainda assim, há marcas que se auto-intitulam “multiespecialistas” e sem se rirem da contradição em termos."

e do post "Não basta chamar-se Napoleão":

"Se uma marca tem valor, tem-no enquanto estiver associada a um produto ou serviço que proporciona esse mesmo valor. E qualquer tentativa de afastar da relação entre significado e significante é tão ilógico como considerar que basta chamar Napoleão a um filho para ele se tornar num pequeno grande general."

Concordo com o Consumering. Se a Inditex tem diferentes marcas para diferentes estilos de roupa (exemplo: Oysho para roupa interior), não há estratégia que justifique "diluir" o valor da marca Zara associando-a a "acessórios de cozinha".


agosto 26, 2003


A indústria de cinema em Portugal V


É notório que a qualidade dos filmes americanos tem decaído nas últimas décadas. Quais as razões?

A resposta poderá estar no documentário "O Jogo de Hollywood", transmitido esta noite às 2:00 e amanhã às 9:00, no canal Odisseia. Eu já tenho o video programado!

Nota: O documentário (título original: "The monster that ate Hollywood") foi produzido pelo canal público da televisão americana: PBS.

Nota 2: Será que a indústria de cinema portuguesa pode aproveitar quaisquer falhas de posicionamento dos filmes americanos? Haverá produtores portugueses com a necessária capacidade estratégica? Esses serão assunto para um próximo post.


agosto 25, 2003


Expresso do meio-dia II


Do caderno de Economia da edição do semanário Expresso de 23 de Agosto publico, abaixo, excertos do artigo intitulado "No país das microempresas", particularmente, citações de Joaquim Rocha da Cunha, presidente da Direcção Nacional da PME Portugal - Associação das Micro, Pequenas e Médias Empresas de Portugal:

"(...) se o Estado (autarquias e institutos públicos incluídos) não fosse o monstro caloteiro que é, e cumprisse as suas obrigações, injectava liquidez na Economia"

Este apresenta uma solução:

"Contraia-se um empréstimo internacional para pagar as dívidas. O que não faz sentido é que haja tantas empresas à beira de fechar, sabendo-se que a situação se regularizaria se o Estado lhes pagasse o que lhes deve."

Empréstimos (nacionais ou internacionais) implicam o pagamento de juros! Atrasar o pagamento das dívidas às microempresas custa ZERO ao Estado...

Em vez de esperar pela "benevolência" do Estado sugiro a Joaquim da Cunha uma solução mais pró-activa: assimilar a política de cobranças da Associação Nacional de Farmácias que "adquire" às pequenas farmácias (diminuto poder negocial) as dívidas do Estado e "exige" a este, depois, o pagamento de juros de mora.


agosto 23, 2003


Expresso do meio-dia I


No caderno de Economia da edição de hoje do semanário Expresso, é publicado um artigo sobre a nova lei dos licenciamentos comerciais intitulado "'Discount' agita comércio" onde é citado Vasco da Gama, presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP):

"No centro da polémica está o risco do diploma se traduzir na instalação maciça de cadeias alemãs de 'discount', que jogam com a arma do baixo preço com base em artigos importados sobretudo do Leste Europeu"

Em que cita o presidente da CCP:
"Esta legislação é susceptível de provocar num período curto, dentro de dois a quatro anos, prejuízos irreparáveis em toda a economia"

e ainda:

(a escuro as palavras de Vasco da Gama)
"O presidente da CCP chama a atenção para os efeitos perversos da futura lei considerando que estes podem ser muito graves ao permitir um crescimento desenfreado das unidades de 'hard discount', entidades que utilizam quase exclusivamente marcas próprias, artigos de fabrico estrangeiro. Na sua perspectiva, não é só o pequeno comércio que sai prejudicado, mas também os próprios grupos de distribuição instalados e sobretudo os produtores nacionais."

A jornalista, Conceição Antunes, "esqueceu-se" de informar sobre:
1. a percentagem de produtos do Leste Europeu vendidos pelas cadeias de discount;
2. o tipo de estudo elaborado pela CCP para prever os "prejuízos irreparáveis em toda a economia";
3. os milhões de consumidores que serão beneficiados com a concorrência entre as discount e os outros estabelecimentos comerciais através da oferta de produtos mais baratos e/ou melhores serviços.

O consumidor, pela não representatividade em organismo oficial, foi "esquecido" pela jornalista do Expresso. Assumir o papel de defensor dos direitos da generalidade dos portugueses deve ser o papel de uma comunicação social responsável. Talvez, assim, os benefícios da liberalização do mercado pudessem ser melhor apreciados.

PS: Alguém do Expresso ainda se lembra que os preços praticados pelo Continente de Viseu, único hipermercado da cidade, são relativamente superiores a qualquer outro hipermercado do grupo?


Reforma Administrativa: "Fusões e Aquisições"


Da infundada decisão parlamentar de criar, como Jorge Sampaio designou, concelhos a la carte apreciei então, no blog Jaquinzinhos, o post intitulado "Conselhos sobre os Concelhos" do qual publico alguns excertos:

"O populismo de todos os partidos que apadrinham cada terrinha com aspirações a urbe maior, temperado com a promessa de novos cargos autárquicos e regado com muitos pequenos orgulhos locais faz destas. Um país cada vez mais retalhado."

"Cada vez será maior o montante dos impostos transferidos para as autarquias e que serão cada vez mais desperdiçados em novas e desnecessárias estruturas."

"Com menos de uma dezena de milhar de habitantes, temos (...), só no continente (...), 90 concelhinhos. 90 senhores presidentes, 400 senhores vereadores, 500 secretárias, centenas de directores de serviços, 90 serviços de contabilidade autárquica, 90 serviços de fiscalização, 90 planeamentos, 90 departamentos disto, 90 departamentos daquilo, centenas de fiscais municipais, centenas de regulamentos, de posturas, de editais, 90 serviços munipalizados, 90 abastecimentos de águas e de saneamento, um sem fim de organizaçõezinhas inviáveis. O desperdício levado ao grau mais alto."


Recentemente, via Mata-Mouros, "encontrei" o blog Transmontar. Nele, os posts sobre a Reforma Administrativa (parte I e II) fizeram-me relembrar o referido post do Jaquinzinhos.
Alguns excertos deste excelente diagnóstico sobre o estado actual da administração local:

"Vivemos, ainda, um tempo em que o sacrossanto municipalismo aparece, no plano da luta política, com a força e infalibilidade de dogma; aos meus olhos, como um fatalismo que, embora me não "congele" o pensamento, me arrefece o optimismo e a esperança."

"A 13 de Maio do corrente ano a orientação da administração central sofreu nova inflexão com a publicação das Leis n° 10 e n° 11 (regulam o regime de criação das áreas metropolitanas e das comunidades intermunicipais, respectivamente). O objectivo consistia em superar o impasse que se traduzia na impossibilidade prática de contratualizar estratégias de desenvolvimento aplicáveis a uma placa territorial contínua, representada por estruturas administrativas fragmentárias, muitas vezes concorrenciais, incapazes de abdicar dos seus interesses particulares em nome de uma concertação estratégica que vise o desenvolvimento integrado da unidade territorial, embora cobertas por legitimidade democrática. "

"A reformulação orgânica das CCR, que parece não ter ido muito além da actualização da designação (CCDR), coeva da criação das novas instâncias de poder referidas, de parceria com as velhas conhecidas Associações de Municípios e estes propriamente ditos, formam uma complexa teia de competências e atribuições partilhadas, comuns, sobrepostas, duplicadas, indiferenciadas, constituindo uma imensa mancha cinzenta de disputas permanentes e rigidez burocrática asfixiante."

"Nos concelhos (municípios) imperfeitos do interior, a crescente complexidade e exigência trazida pela descentralização aludida trouxe um grau de responsabilização completamente desajustado e desproporcionado em relação ao perfil-tipo do autarca rural, com o seu déficit formativo ao nível das competências de gestão e planeamento estratégico"

"(...) o concelho impôs, paulatina e silenciosamente, uma ditadura de duplo sentido (...) sobre as juntas de freguesia, cuja existência não vai além da mera formalidade orgânica com reconhecimento constitucional, vazia de qualquer relevância prática"

"Grave problema do nosso sistema autárquico é a sua confessada gula nunca saciada qualquer que seja o volume de transferências de fundos."

"Há dez meses atrás, assisti à apresentação do orçamento de uma câmara da nossa terra a executar no corrente ano. à falta do original, foi distribuída, antes, uma peça propagandística que visava explicá-lo. Desavergonhadamente, realçava as despesas correntes em relação ao investimento."


A seguir, Vítor, autor do Transmontar, apresenta uma proposta estratégica da qual publico os seguintes excertos:

"Trata-se de advogar uma REGIONALIZAÇÃO CENTRALIZADORA pela substituição da complexa rede administrativista actual por uma cúpula executiva que promova a agregação de competências de grau superior e que desempenhe, simultaneamente, um tríplice papel: único interlocutor da administração central na região, única estrutura deliberativa e executiva na esfera regional, com capacidade de planeamento, execução e controlo de estratégia de desenvolvimento e braço do estado central para a execução de políticas integradoras e de coesão nacional."

"O sistema assenta em círculos eleitorais delimitados pelas fronteiras dos actuais concelhos, que perderiam as funções executivas actuais para manterem delegações locais de atendimento aos cidadãos e recolha de contribuições e taxas."


O post acaba com um desafio:

"É a hora da imaginação e do contributo, do brainstorm vigoroso e esclarecido, da assumida utopia, da ideia radical e mobilizadora."


Este vosso blogger aceita o desafio e espera inserir, brevemente, um post sobre o assunto.

Jaquinzinhos deu, já então, uma contribuição:

"A lei deveria beneficiar fortemente a concentração voluntária de municípios. Fazer a regionalização de baixo para cima. Dar mais a quem tem mais população. Extinguir ou fundir os mini-municípios ou integrá-los em municípios vizinhos. Quem quiser ficar orgulhosamente só, terá menos dinheiro. Muito menos dinheiro. Municípios que escolhessem voluntariamente a sua concentração teriam uma forte bonificação na repartição de verbas."


Nota: este post é apenas uma pequena amostra dos textos publicados no Transmontar. Os posts intitulados "Contribuição para uma Reforma Administrativa" (Parte I e II) são, em minha opinião, de leitura obrigatória.


agosto 19, 2003


Cine-Canhoto


O canhotoblog leu um dos meus posts sobre o desenvolvimento da indústria de cinema em Portugal e "parece concordar" na necessidade da aplicação de estratégias de marketing ao cinema português:

"acho que o cinema português devia realmente adoptar mais estratégias de marketing"

O Cruzes sugere algumas estratégias:
1. "os Malucos do Riso são um produto com grande aceitação que consiste basicamente em anedotas e caretas dos actores. O Paulo Branco devia começar a insistir que o Luis Miguel Cintra contasse umas anedotas de alentejanos e a Leonor Silveira fizesse umas caretas nos filmes"

A SIC, em colaboração com o ICAM, já tentou esta fórmula na produção de telefilmes.
Exemplos: "Querida Mãe", com Maria Rueff, e "Lampião da Estrela", com Herman José, que não deixaram boas memórias.
Um filme de comédia, ao contrário dos Malucos do Riso, requer a existência de um bom Argumento que dê continuidade às "piadas". Penso que um conjunto de anedotas e caretas apela mais ao público português de televisão do que o de cinema (posso estar errado Canhoto!).

2. "Paulo Branco devia preocupar-se em substituir os bons actores por actores bons (como a Marisa Cruz ou o Cláudio Ramos)"

Interpretar um personagem não é o mesmo que apresentar a "Chuva de Estrelas" - é necessário tornar o personagem credível (e, em minha opinião, a boa Catarina Furtado não o faz bem). Não é boa estratégia "substituir bons actores por actores bons". Resulta melhor se, por exemplo em filmes românticos, usarem bons actores que sejam... atraentes - acelera o processo de credibilização do personagem porque o próprio espectador, conscientemente ou não, sente-se "atraído".

3. "pressionar o Manoel de Oliveira para encenar mais explosões e perseguições de carros nos seus filmes e pôr toda a gente a falar inglês para não suceder um Pesadelo Cor-de-Rosa II."

Cruzes Canhoto! Este segmento de mercado é dominado pelas produções americanas que possuem superior capacidade financeira. Aliás, para o Manuel de Oliveira fazer um filme de acção bastaria os seus actores "mexerem-se"...

4. "Paulo Branco (...) devia também optar por tácticas de marketing mais agressivas, como sortear viagens à Turquia entre os espectadores do "Vai e Vem", oferecer conjuntos de champôs a quem vir mais de três filmes portugueses por ano e fazer descontos de 10% para todos os filmes exibidos nas salas Medeia a quem exibir um bilhete para um filme português."

Não sei se os espectadores do "Vai e Vem" serão o melhor público-alvo (donas de casa que gostam de ganhar viagens à Turquia e... conjuntos de champôs???).
Quanto aos 10% de desconto, Paulo Branco já faz maior desconto: 30% através do "Cartão Clube Medeia" (ver notícia de 20/12/2002). Uma vez que os filmes de Paulo Branco, maior produtor de cinema português, são sempre exibidos nas salas de cinema da sua Medeia Filmes, aderir ao cartão é, em parte, optar por ver filmes portugueses. Basta saber se a estratégia resultou... Alguém sabe o número de aderentes?

É óptimo ver que existem pessoas interessadas no desenvolvimento sustentado da indústria de cinema portuguesa... Obrigado pela tua colaboração Cruzes Canhoto!!!


agosto 16, 2003


Posicionamento da blogosfera portuguesa: Valete Frates!


O Valete Frates deu-se ao trabalho de ler o meu post intitulado Posicionamento da blogesfera portuguesa. Obrigado! Não havia nechexidade...
Nesse post refiro que o sucesso dos blogs portugueses passa por 3 estratégias distintas: blog de referência (directório), blog generalista de qualidade reconhecida e blogs temáticos.

O Valete "afirma" que não está inserido em qualquer das estratégias e apresenta a sua fórmula de "sucesso":
"Obrigar a família, os amigos e os subordinados a fazerem do Blog a sua Home Page do Internet Explorer"

Devo dizer que não sou familiar (acho eu... teria de ver a minha árvore geneológica), amigo ou subordinado do João. Contudo, o Valete Frates! é, para mim e para muitos outros "não-primos", uma paragem obrigatória de qualquer navegação pela blogesfera portuguesa.

O Valete Frates! é facilmente categorizável na segunda estratégia do posicionamento de um blog de sucesso. Os seus posts, pela sua qualidade, são leitura obrigatória para quem quer ter acesso à melhor e mais correcta informação.


agosto 12, 2003


Aeroporto complementar de Lisboa: Euro2004 e anos seguintes


Em post anterior, sugeri que a utilização do aeroporto da Ota deveria centrar-se em uma estratégia de baixo custo dirigida, principalmente, a companhias aéreas em trânsito, charters ou no-frills.

A necessidade de utilização de aeroportos complementares aos de Lisboa e Porto, para acolher os voôs charter do Euro2004 (ver artigo do Semanário Económico), poderá ser a oportunidade de se criar, pelo menos em Lisboa, uma infra-estrutura semelhante à que sugeri.

Assim, as obras de adaptação no, por exemplo, aeroporto militar do Montijo, necessárias para receber os adeptos estrangeiros, poderiam ser, definitivamente, a melhor alternativa à construção do aeroporto da Ota – haveria, deste modo, aproveitamento permanente do equipamento instalado. Ainda, a proximidade da ponte Vasco da Gama resolve o problema dos acessos ao centro da cidade.

Um aeroporto complementar de Lisboa contribui, imediatamente, como adicional incentivo ao esperado crescimento do número de turistas nos anos seguintes ao Euro2004 – “consequência” da promoção do país.


Futebol vs Política


A incapacidade estratégia da maioria dos gestores de clubes de futebol profissional é evidente no seguinte artigo do jornal Público:

“Presidente da Câmara de Faro Envolve-se nos Negócios do Farense”

Alguns excertos:

“O presidente da Câmara de Faro, o social-democrata José Vitorino, que prometera não dar nem mais um subsídio ao Sporting Clube Farense (SCF) pretende que seja reconhecido “o interesse público na instalação de uma bomba de gasolina ou posto de abastecimento” na cidade, para pagar as dividas do clube.”

Bomba de gasolina? Será que o presidente da câmara não consegue arranjar soluções mais originais sem o compromisso financeiro da Câmara. Até eu, vulgar blogger, sugeri, em post de 7 de Junho, melhor alternativa (?).

”Para já, o objectivo dos adeptos do clube é arranjar cerca de meio milhão de euros, quantia necessária para a inscrição na 2ª Divisão B.”
”foram espalhados folhetos pela cidade, apelando à mobilização dos habitantes a favor do clube. "Vamos todos apoiar o projecto que o presidente da câmara defende para viabilizar o nosso Farense", diziam.”

Grandes “adeptos”!!! Deviam, sim, apelar à mobilização das suas carteiras. Nunca ouviram falar de “aumento de capital”???

”José Vitorino pretendia que a assembleia municipal considerasse a gasolineira de interesse público, autorizando ao mesmo tempo a passagem do direito de superfície do terreno para Farense.”
”O representante dos moradores da Horta das Figuras, Jaime Ferreira, (...) diz mesmo que "há vários anos que existe um 'lobby' do futebol dentro da câmara, em prejuízo do interesse geral dos cidadãos". O presidente da assembleia municipal, Gomes Ferreira, é simultaneamente presidente do clube e da Farense Futebol SAD.”

Sr. José Vitorino, presidente da Câmara Municiapal de Faro, defender o interesse geral dos cidadãos é a razão porque foi eleito. O interesse dos adeptos é defendido pelo presidente do Farense... também presidente da Assembleia Municipal(?)

É lamentável ver que a má gestão dos clubes de futebol tenha de ser “solucionada” por gestores/políticos...


agosto 10, 2003


Aromas do Bairro


A minha peregrinação de ontem à noite passou pelo Bairro Alto, lugar de referência histórica da diversão nocturna da cidade de Lisboa. O mês de Agosto, mais do que qualquer outro, é a altura do ano em que o número de turistas ultrapassa largamente o dos “alfacinhas”, ao ponto de ser difícil ouvir uma conversa na nossa língua materna.

A boa surpresa deste Verão foi a proibição do trânsito no interior do Bairro - decretada pela Câmara Municipal de Lisboa, presidida por Pedro Santana Lopes. A liberdade de movimentos dos que, cerveja na mão, visitam as “capelinhas” é uma importante mais-valia para este obrigatório “destino turístico”. Alguns dos restaurantes, aproveitando o clima ameno da noite lisboeta, decidiram colocar mesas nas ruas onde outrora circulavam os carros fornecendo, assim, um serviço de maior valor acrescentado.

Por volta da meia-noite e meia (0h30m) foi com ainda maior surpresa que vi um verde camião da câmara municipal parar junto às referidas mesas para… recolher o lixo(?) Estou certo que os turistas que aí se encontravam sentados, quando voltarem aos países de origem, recomendarão aos seus amigos semelhante experiência! Afinal, que outra capital europeia pode oferecer, à mesa de jantar, tal variedade de aromas urbanos?

Na maioria das vezes, o que determina o sucesso de uma estratégia de valor acrescentado é a atenção aos pequenos pormenores muitas vezes “esquecidos” na fase inicial de planeamento e/ou implementação. Esses pormenores são melhor detectáveis quando a organização permite e incentiva a participação activa dos seus empregados, clientes, fornecedores, etc - e rapidamente aplica as necessárias correcções.

PS: Sr. Pedro Santana Lopes, será possível mudar o horário da recolha do lixo no Bairro Alto?


agosto 07, 2003


Costa da Caparica: século XXI


Lisboa é o segundo maior destino turístico de Portugal continental (o Algarve ocupa a primeira posição). A capital portuguesa, tendo em conta a sua história, clima e localização geográfica está bem posicionada para atrair os potenciais turistas.

Mas, apesar da sua importância, o tempo médio de estadia de cada turista é diminuto: 2/3 dias. Esta é uma consequência da reduzida oferta de produtos que, actualmente, concentra-se no turismo de interesse histórico e cultural: museus e monumentos.

Por estar localizada junto ao rio Tejo e ao oceano Atlântico, a região de Lisboa tem, em relação a outras capitais europeias, mais opções de diversificação da oferta turística.

Praia é uma das opções estratégias que está a ser mal explorada. Em qualquer destino turístico, a localização mais próxima da costa marítima é a mais cara e, consequentemente, a mais rentável. Na Costa da Caparica - localizada na margem sul do rio Tejo - a proximidade à praia está a ser subaproveitada ao “permitir-se” a permanência de infra-estruturas de baixo valor acrescentado: os parques de campismo. O tarifário nestes aplicado, ao não “penalizar” a estadia de longo prazo, é outro factor que impossibilita a eficente exploração destas áreas – existem inúmeras famílias portuguesas que, anos atrás, decidiram aí instalar a sua “casa de férias”.

A implementação de uma estratégia de rentabilização das zonas junto às praias trará benefícios não só para a localidade como também para toda a região de Lisboa – poucos destinos turísticos de praia podem oferecer a história e cultura de uma capital europeia ou, vice versa, nenhuma capital europeia pode oferecer, como produto turístico complementar, uns dias de praia para melhorar o “bronze”.
A construção, junto à praia, de hotéis e/ou bungalows de qualidade (em termos arquitectónicos e ambientais), aliado à maior disponibilidade de transportes entre estes e o centro histórico de Lisboa, permitiria ao turista disfrutar de um produto de lazer de alto valor acrescentado, quase impossível de ser assimilado/copiado por outros destinos turísticos.

Ainda, para reduzir a sazonalidade inerente aos destinos de praia (meses de Verão), penso que seria importante, durante os meses de clima “menos favorável” aos típicos banhos de sol, posicionar as referidas infra-estruturas hoteleiras a construir na Costa da Caparica como destino de surf – surgiriam, assim, mercados complementares como, entre outros, escolas de surf, lojas de material apropriado à prática deste desporto, restauração aberta todo o ano, estabelecimentos de diversão nocturna, etc. Uma das infra-estruturas existentes que beneficiaria com a opção do posiconamento Surf é o pequeno comboio que, apenas durante os meses de Verão, faz a ligação entre o centro da Costa da Caparica e a localidade Fonte da Telha, cobrindo uma extensão de vários quilómetros de praia – poderia passar a transportar surfistas para praias onde, por razões ambientais, não é possível construir.

NOTA AOS GOVERNANTES: para aumentar o número de turistas - e o tempo médio de estadia destes - não serve de nada a publicidade do ICEP. É, sim, necessário o Estado não “complicar” o processo de implementação de semelhantes estratégias de valor acrescentado com a sua habitual burocracia. Estou certo que haverá suficientes agentes privados do sector do Turismo interessados em tomar a iniciativa, caso não existam incertezas quanto aos “custos legais” do projecto.