<$BlogRSDUrl$>

dezembro 30, 2003


Erro Estratégico III?


Em 2002, na moção do sector da Saúde do Partido Socialista (meus bolds):
"Estão assim criadas todas as condições para a privatização de hospitais e serviços. Entrega a gestão dos serviços, aumenta a promiscuidade entre o sector público e privado e vai acabar por desarticular por completo o S.N.S. [Sistema Nacional de Saúde]"

"Propomos em resumo que o P.S. defenda uma urgente reestruturação do S.N.S., na justa medida do edifício legislativo assumido nos últimos 6 meses do Consulado de Maria de Belém sem cedências ao sector privado das multinacionais, das seguradoras ou de certos sectores convencionados."

Mas, na edição de 27 de Dezembro do semanário Expresso, leio (meus bolds):
"Apesar de pertencer à instituição de solidariedade, o Hospital da CVP [Cruz Vermelha Portuguesa] funcionou sempre como qualquer outra clínica privada com fins lucrativos. Mas anos seguidos de uma gestão ruinosa levaram o hospital a um ponto de ruptura financeira, que Maria Barroso, no entanto, conseguiu inverter. Em 1998, a antiga presidente da CVP fez um verdadeiro 'negócio de ouro' com o Estado. Convenceu o Governo a injectar quase 2,5 milhões de contos [12,5 milhões de euros] no hospital - o que foi feito com a entrada da Partest, em 45%, na recém criada sociedade gestora do hospital - e ainda garantiu a sobrevivência financeira da clínica com a assinatura de um protocolo de prestação de serviços ao Ministério da Saúde, então liderado por Maria de Belém.

O negócio, feito praticamente em simultâneo, não passou despercebido a ninguém. Nem aos hospitais públicos de Lisboa, a quem o protocolo obrigava a mandar doentes seus para o Hospital da Cruz Vermelha. Nem à oposição, que criticou o tratamento de 'favor' do Governo à antiga primeira-dama e denunciou a situação como um 'negócio de socialistas', uma vez que, à frente do hospital da CVP, Maria Barroso tinha colocado o genro de Almeida Santos."

"Consulado de Maria de Belém"? Faz o que eu digo, não faças o que eu fiz!!!


Erro Estratégico II?


Que se passa na Bolívia?
Neste país - um dos mais pobres da América do Sul - foi descoberto um jazigo de gás natural mas aumenta a contestação - liderada por Evo Morales - sobre a melhor forma de o rentabilizar.

Onde está o erro na estratégia dos políticos bolivianos? Leiam o excelente post do Ai Jasus!

Nota: a não perder, também, o post do Jaquinzinhos sobre o Sr. Evo Morales...


dezembro 24, 2003


Concorrência desleal III


Via Liberdade-de-Expressão, fiquei a saber que o governo italiano pretende financiar a recuperação da Parmalat:
"The Italian cabinet has amended its laws to make it easier to rescue Parmalat, the food giant which is facing a form of bankruptcy."

"The government has also asked the EU to waive its rules on state aid to prevent Parmalat's woe from creating a wider dairy sector crisis."

"The government has said the firm, which employs 36,400 people, is important to the Italian economy."

"Parmalat is a ubiquitous brand in Italy, and now has operations in 30 countries worldwide, especially Eastern Europe and Latin America."

A Parmalat também opera em Portugal. E, qual será a resposta das empresas portuguesas de laticínios (ex: Mimosa e Agros) à concorrência desleal provocada pelo financiamento estatal italiano?

Ainda, as preocupações com os trabalhadores da empresa e com a economia italiana não parecem ter qualquer fundamentação:
"Potential acquirers have already started to eye different parts of the company, which grew extremely rapidly during the 1990s."

Mesmo que a Parmalat abra falência, não se deixa de produzir e vender leite italiano! Acontece é que o nome na embalagem será diferente...


Funicular de Viseu


O Ai Jasus!, em relação ao meu post sobre o funicular de Viseu, escreveu o seguinte comentário:
"(...) no post da Tempestade Cerebral sugerem-se vários usos alternativos à construção do funicular em Viseu. Mas quantos visenses (é assim que se diz?) se deram ao trabalho de questionar o gasto? Será que a maioria sequer sabe que pode influir nas decisões camarárias?"

Esperemos que o número de eleitores que se preocupam com os custos de oportunidade dos investimentos públicos esteja a aumentar. O desenvolvimento sustentado da economia portuguesa disso depende.
Quanto à avaliação dos visienses, a respeito das decisões de investimento do autarca Fernando Ruas, vamos esperar pelas próximas eleições autárquicas... em 2005!


dezembro 23, 2003


Capital do Móvel III


Ontem, no artigo do jornal Público intitulado "Mais de 40 por cento da indústria nacional de mobiliário em risco" (meu bold):
"A medida proposta ao Ministério da Economia, que dá prioridade à formação dos 'empresários e quadros superiores do sector', ainda está por fazer."

O presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, Arménio Pereira, parece não partilhar da estratégia proposta para o sector. Segundo este, o que falta é mais dinheiro do Estado (meu bold):
"Arménio Pereira acusa o ICEP de não apoiar a indústria e de 'continuar de costas voltadas para o sector', dando como exemplo o fracasso das bienais de 'design'. 'Onde estão?', perguntava, reclamando a intervenção do Estado. 'Em cinco anos, não conseguimos aumentar as exportações e milhares de empresas vão cair como castelos de cartas na região do Sousa, se não houver uma mão paterna'. "

Mas, na região, há empresas que beneficiam com as falências das suas concorrentes (meu bold):
"A Disarte factura actualmente 2,5 milhões de euros, adquiriu recentemente novo equipamento, a preços mais acessíveis por falência de um concorrente, e investiu nos últimos quatro anos cerca de 2,5 milhões de euros, com exclusivo recurso a capital próprio. A empresa tem pedido dinheiro à banca, mas esta não a tem apoiado."

O desenvolvimento sustentado do mercado de mobiliário passa, necessariamente, pela falência das empresas ineficientes e pela fusão/aquisição das mais eficientes - com o consequente fluxo dos trabalhadores das piores empresas para as melhores.

Nota: já aqui enumerei algumas das estratégias necessárias ao desenvolvimento do sector; aos interessados deixo os links dos anteriores posts intitulados "Capital do Móvel": parte I e II.


dezembro 22, 2003


Expresso do meio-dia V


Editorial de Nicolau Santos, subdirector do semanário Expresso, edição de 13 de Dezembro (meus bolds):
"A segunda maior construtora portuguesa passou para mãos espanholas e não se ouviu uma palavra sobre o assunto."

"Sendo a génese dos processos completamente diferentes, o que Diogo Vaz Guedes fez foi o mesmo que António Champalimaud: vender os seus bens a interesses espanhóis."

"Champalimaud foi amoral. Vaz Guedes tornou-se altamente criticável."

"Sabe-se também que há concursos públicos em Espanha que abrem e fecham em 15 dias - e são sempre ganhos por empresas espanholas, que misteriosamente estavam preparadas para apresentar os seus dossiês de candidatura naquele espaço de tempo tão curto. Ora, em Portugal, nunca se fez esta concertação de posições."

"(...) a falta de uma definição estratégica do que queremos para Portugal e de um acordo de cavalheiros entre governantes e empresários para que estes, sem ferir as regras, ganhem a maior parte dos concursos públicos;"

Editorial de José António Saraiva, director do semanário Expresso, edição de 20 de Dezembro (meus bolds):
"(...) enquanto certas regiões como a Catalunha e o País Basco conquistam cada vez mais autonomia e até reividicam independência, Portugal perde todos os dias uma parcela de poder a favor de Espanha."

"Na semana passada foi a vez da família Vaz Guedes ceder a um grupo espanhol o controlo das empresas que detinha há três gerações. Antes tinha sido a família Champalimaud."

"Portugal (...) não dá um passo para travar a transferência do controlo da sua economia para o lado de lá da fronteira."

"O que se estranha, em todo o caso, é que o Presidente da República e o Governo não façam nada para contrariar este fenómeno."

"Enquanto Aznar reúne regularmente com empresários e banqueiros para a definição conjunta de linhas estratégicas, Jorge Sampaio e Durão Barroso submetem-se às 'leis de mercado' sem um gesto de revolta."

"Claro que os liberais puros não vêem nisto qualquer problema. O importante, para eles, é que o mercado funcione."

A hipocrisia destes senhores não tem limites.

Por exemplo, sobre a maior empresa de comunicações móveis do Brasil (e América do Sul) - controlada, equitativamente, por uma empresa portuguesa e outra espanhola - só li elogios à gestão dos responsáveis da Portugal Telecom. E, ainda recentemente, aplaudiam os investimentos de empresas portuguesas do sector do Turismo na região Nordeste do Brasil.
Mas, nunca passou pelos meus olhos qualquer artigo de opinião condenando a perda dos "centros de decisão" na economia brasileira. Por outras palavras, Nicolau Santos e José António Saraiva nada têm a dizer se os "invasores" forem portugueses! Como disse, são uns hipócritas...

Ambos apelam à corrupção do Governo português para garantir a atribuição de concursos públicos a empresas portuguesas. Sem mostrarem qualquer preocupação pelos evidentes custos de tais políticas - a eficiência fiscal não parece ser uma preocupação destes "jornalistas".

José António Saraiva chega a, dissimuladamente, pôr as culpas nos "liberais puros" que só acreditam nas leis de mercado ("o importante, para eles, é que o mercado funcione"). Esquece-se o dignissímo director do Expresso que o problema - segundo o que ele e Nicolau Santos afirmam - não está em Portugal mas sim em Espanha. Parece ser aí que as leis de mercado não funcionam eficientemente. Não seria melhor opção condenar tais práticas?

Infelizmente noto, nas palavras dos gestores do Expresso, uma pitada de salazarismo - e eu a pensar que o "orgulhosamente sós" já tinha passado à história.

PS: recomendo a leitura dos posts do De Direita e Liberdade de Expressão sobre o assunto. Ainda, aos interessados, o Portugal e Espanha postou os editoriais de Nicolau Santos e José António Saraiva.


dezembro 21, 2003


Erro Estratégico?


No programa "60 Minutes", transmitido pela SIC Notícias, uma reportagem sobre a Guiné Equatorial (meus bolds):
"What country has the world's fastest-growing economy? China? Ireland? No. Equatorial Guinea, a tiny nation which been dubbed the 'Kuwait of Africa' because it has so few people and so much oil."

African countries like Equatorial Guinea will provide as much as 25 percent of America's oil in the next decade. And giants like ExxonMobil are pumping out more of it all the time."

"The country has the third largest reserves in Africa (...)"

"Equatorial Guinea got to keep a mere 12 percent of the oil revenues in the first year of its contract -- not much of a deal considering that other African countries were keeping as much as 60 percent."

"President Obiang has won big since oil was discovered - and now he is bestowing on himself and his family the lifestyle of the rich and famous. The president visits Washington, D.C. A lot. He's bought a couple of mansions in the D.C. area - and he paid $2.6 million dollars for one in cash."

"Is the president worried that his popularity is slipping? 'My popularity at the moment is not decreasing. In a sense it's actually growing,' he says. 'It's growing, because if I obtain 97 percent of the elections, it just shows there is no one left in the opposition.'
Maybe that's because the opposition's leaders were locked up in the notorious Black Beach Prison when the elections were held."

"As first reported by the Los Angeles Times, American oil companies have been depositing hundreds of millions of dollars in oil royalties into an account controlled by President Obiang at a branch of the Riggs Bank in Washington, D.C."

" 'Somewhere like Equatorial Guinea is particularly strategic because I mean, figure it's non-OPEC and it's non-Muslim oil that's very attractive for the U.S.,' says Vines
[senior researcher for Human Rights Watch]. 'But if you have greater disenfranchisement and frustration by the local populations who see no benefit from oil, they may become festering zones for other types of individuals who want to manipulate this, including sympathizers to Al Qaeda or other groups that may have an anti-American interest involved.' "

Será que a administração americana não consegue aprender com os erros do passado?


dezembro 15, 2003


Expresso da meio-dia IV


No 2° Caderno ("Economia e Internacional") da edição de 13 de Dezembro do semanário Expresso, o artigo intitulado "TAP quer fusão nacional" baseia-se exclusivamente no acesso ao documento resultante da reflexão estratégica da transportadora aérea nacional, realizada a 24 e 25 de Novembro (citação do referido documento marcada a bold):
"A fusão ou participação cruzada com as restantes companhias nacionais de transporte aéreo regular foi o cenário mais mai valorizado pela TAP"

"(...) a TAP ganharia, pela via de uma fusão nacional, 'poder de mercado ao nível da negociação com os outros elos da cadeia de valor', adianta o documento."

"No caso de uma fusão dentro das fronteiras nacionais, seriam mantidos integralmente os direitos consignados pelos acordos aéreos estabelecidos entre Portugal e países terceiros."

O jornalista "esqueceu-se" de apresentar as consequências de tal estratégia:
Ao exercer maior poder de negociação com "os outros elos da cadeia de valor", a nova companhia aérea, reforçando o duopólio consignado nos referidos acordos aéreos, passaria a vender os seus bilhetes a preços superiores - prejudicando, entre outros, o último elo da cadeia de valor: os consumidores.

O repórter deveria ter-se questionado:
Estarão os consumidores portugueses - para garantir a sobrevivência da TAP - dispostos a pagar mais pelas suas viagens de avião?

E, custava muito consultar a Deco ou a Associação das Agências de Viagem e Turismo?

A qualidade de informação é uma importante vantagem competitiva no mercado da comunicação social. Felizmente, para o Expresso, a concorrência não é muito melhor...

Nota: como exemplo, o acordo aéreo entre Portugal e o Brasil beneficia apenas a TAP e VARIG, únicas companhias "autorizadas" a fornecer vôos regulares entre os dois países. Não admira que o Brasil, associado a maior procura, seja um dos destinos mais rentáveis da transportadora aérea nacional.


dezembro 11, 2003


Investimentos Públicos: Custos de Oportunidade II


Em post anterior, comentei uma "conversa" entre os blogs Liberdade de Expressão e Irreflexões sobre os custos de oportunidade dos investimentos públicos.
Na altura, defendi que os eleitores deviam, também, avaliar os seus governantes segundo critérios económico-financeiros. Por outras palavras, ter em conta o custo de oportunidade dos investimentos públicos (por exemplo, perguntar: porque foi o dinheiro investido neste projecto e não noutro? é toda a população beneficiada ou só "alguns"? qual seria a redução dos meus impostos se não investissem neste ou em qualquer outro projecto?).

Lembrei-me desse meu post ao visitar o Transmontar, um dos meus destinos favoritos da blogosfera portuguesa (apesar de eu não ser transmontano). E, sem ainda ter respondido ao seu desafio para escrever sobre a reforma administrativa (como prometi!), o Vítor lança-me novo repto: escrever sobre um funicular...
Para quem não sabe, em Lisboa, por exemplo, existem três funiculares: o Elevador da Glória (276m), da Bica (283m) e da Lavra (188m).

Estes são os factos:
Fernando Ruas, presidente da Câmara Municipal de Viseu, decidiu investir na construção de um funicular, na Calçada de Viriato, que ligará o centro histórico da cidade à zona da Feira de S. Mateus - onde está a ser construído o Fórum (um centro comercial desenvolvido pela MDC - Multi Development Corporation). Um percurso de 400 metros!
O principal objectivo desta obra é, a médio prazo, limitar a circulação automóvel no centro histórico.
O custo (estimado) do funicular de Viseu é de 4,8 milhões de euros, sendo 70% (3,36 milhões) financiado pela União Europeia (UE) e os restantes 30% repartidos entre o Estado e a Câmara Municipal (864.000 e 576.000, respectivamente). Para o referido percurso o autarca pretende cobrar, por viagem, 40 a 50 cêntimos.

Agora, imaginem o improvável caso de Fernando Ruas não querer saber sobre o custo de oportunidade do dinheiro investivo pelo Estado e UE... Assim, só tem de se "preocupar" com o retorno dos "seus" 576 mil euros investidos!
A julgar pela data de conclusão da obra (2005) e a data das eleições autárquicas (também 2005???) posso facilmente "adivinhar" qual o retorno pretendido pelo "seu" investimento: votos para o reeleger!!!

Mas, - perguntarão os visienses imunes a tais "artimanhas" - qual o custo de oportunidade desses 576.000 euros? Algumas sugestões:
1. compra de 7 novos autocarros (custo unitário: 75 mil euros): que, em comparação com o funicular, têm uma opção de percursos mais abrangente e menores custos de manutenção (quantos especialistas em funiculares haverá em Portugal?);
2. aquisição de mais 3 autocarros eléctricos (custo unitário: 150 mil euros) a juntar aos dois já encomendados;
3. compra de 38.400 novos livros para as bibliotecas do concelho (custo unitário: 15 euros);
4. compra de 576 novos computadores para as escolas secundárias do concelho (custo unitário: 1.000 euros);
5. entrada livre, no Museu Grão-Vasco, de 384 mil visitantes (taxa de ingresso: 1,5 euros) que, considerando o recorde de visitantes (no ano 2000: 30 mil), representa as receitas de bilheteira da próxima década;
6. oferta de 16.457 livros técnicos aos gestores das empresas do concelho (custo unitário: 35 euros);
7. financiamento de 11.520 horas de cursos de formação aos trabalhadores das empresas do concelho (custo por hora de formação: 50 euros);
8. modernização dos serviços camarários - objectivo: maior qualidade - (investimento distribuído por servidores, computadores, software e formação dos funcionários camarários);
9. redução dos impostos municipais (é pouco, mas seria um bom começo).

Contudo, a "vaidade" de Fernando Ruas impede-o de ter em atenção o custo de oportunidade do dinheiro do Estado e UE. Os 4,224 milhões de euros destas instituições tiveram origem em impostos que, não sendo cobrados, significariam maior riqueza para os seus contribuintes (portugueses, alemães, franceses, ingleses, etc). Maior riqueza implicaria maiores investimentos e/ou maior consumo, o que acabaria por beneficiar as empresas portuguesas e seus trabalhadores (até os do concelho de Viseu!). Por outras palavras, o "capricho" de Ruas é um óptimo exemplo dos investimentos públicos que "atrasam" o desenvolvimento económico de Portugal.

Nota: tal como o presidente da Câmara Municipal de Viseu, a maioria dos cidadãos também não faz a contabilidade do que não é "visível": ignoram os custos de oportunidade dos investimentos públicos. Fernando Ruas espera essa "ignorância" dos visienses, para ser reeleito.... em 2005!!!